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Crítica

Holy Other

: "Lieve"

Ano: 2021

Selo:

Gênero: Eletrônica, Witch House, Dark Ambient

Para quem gosta de: oOoOO e Balam Acan

Ouça: Lieve e Groundless

7.6
7.6

Holy Other: “Lieve”

Ano: 2021

Selo:

Gênero: Eletrônica, Witch House, Dark Ambient

Para quem gosta de: oOoOO e Balam Acan

Ouça: Lieve e Groundless

/ Por: Cleber Facchi 10/01/2022

Em 2012, quando David Ainley deu vida ao primeiro trabalho de estúdio como Holy Other, Held, a estética soturna que orientava produção eletrônica do período dava seus últimos suspiros. Parte importante do mesmo universo de artistas que revelou nomes curiosos como oOoOO, Balam Acab, White Ring, Salem e tantos outros representantes da famigerada Witch House, o artista londrino fez da criativa combinação entre texturas ruidosas e ambientações submersas a passagem para um território tão envolvente quanto provocativo e sombrio, estimulo para a formação de faixas como as atmosféricas Tense Past e Nothing Here.

É justamente dentro desse mesmo ambiente soturno, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta, que o produtor revela ao público o segundo álbum de estúdio da carreira, Lieve (2021, ホ). Primeiro disco de inéditas de Holy Other em um intervalo de nove anos, o trabalho de dez faixas estabelece na lenta sobreposição dos elementos a passagem para um território ainda mais interessante e musicalmente inventivo, como uma tentativa clara do artista inglês em preservar a sonoridade que tem sido explorada desde os primeiros registros autorais, porém, ampliando o próprio campo de atuação.

Não por acaso, Holy Other escolheu a própria faixa-título do trabalho para anunciar a chegada do registro e representar tudo aquilo que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Bough Down. Inaugurada em meio a formações densas, ruídos e batidas sobrepostas, a canção segue exatamente de onde Ainley parou no álbum anterior, porém, ganha novos contornos à medida que o saxofone melancólico de Daniel Thorne e ambientações labirínticas garantem maior profundidade ao material. Pouco mais de três minutos em que o produtor preserva e potencializa tudo aquilo que foi apresentado durante a montagem de Held.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como Ainley, mesmo concentrado na produção de um repertório totalmente imersivo, se permite estreitar a relação com uma parcela ainda maior do público. E isso fica bastante explícito na colaborativa Groundless. Completa pelas vozes do coletivo NYX, a canção marcada pela fluidez das batidas evidencia o lado mais acessível do trabalho, lembrando as criações de artistas como Clams Casino. O mesmo resultado, porém, partindo de uma base atmosférica, volta a se repetir minutos à frente, em Shudder, composição que destaca o uso delicado das vozes e sopros.

Mesmo quando trilha o registro de maneira solitária, como em Whatever You Are You’re Not Mine, evidente é o esforço de Ainley em provar de novas possibilidades. Enquanto o material entregue em Held parecia pensado para sufocar o ouvinte, com o presente álbum, o produtor britânico utiliza de uma abordagem cada vez mais delicada, leve. São ambientações flutuantes e formas instrumentais que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sempre de maneira detalhista. É como uma fuga parcial de tudo aquilo que Holy Other e outros nomes próximos vinham testando em estúdio desde o fim dos anos 2000.

Claro que isso não impossibilita a produção de faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos do produtor. É o caso de Absolutes. Do efeito metalizado das batidas ao tratamento dado aos ruídos e sintetizadores, tudo soa como uma extensão do material entregue em Held. Mesmo o enquadramento dado às guitarras, lembrando as criações do conterrâneo Matthew Barnes, do Forest Swords, parece contribuir para esse resultado. São estruturas sombreadas que funcionam como um contraponto ao novo direcionamento estético do artista, dualidade que orienta com naturalidade a formação do registro até os minutos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.