Ano: 2023
Selo: Third Man Records
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Yuck e MJ Lenderman
Ouça: Protocol, Beauty Filter e Spot Me 100
Ano: 2023
Selo: Third Man Records
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Yuck e MJ Lenderman
Ouça: Protocol, Beauty Filter e Spot Me 100
O som granulado da guitarra e a voz parcialmente submersa de Protocol, faixa de abertura em Cartwheel (2023, Third Man Records), funciona como um indicativo claro de tudo aquilo que o grupo encabeçado pelo guitarrista Will Anderson busca desenvolver no mais recente trabalho de estúdio apresentado pelo Hotline TNT. São canções que buscam inspiração na sonoridade ruidosa que marca a produção dos anos 1990, porém, sustentam no lirismo atormentado e completa falta de perspectiva um criativo diálogo com o presente. É como um turbulento exercício sentimental e lírico que instantaneamente se conecta ao ouvinte.
A exemplo de tudo aquilo que a banda havia incorporado ao trabalho anterior, Nineteen in Love (2021), o presente disco gira em torno de romances tortuosos, momentos de maior vulnerabilidade emocional e tormentos pessoais que escancaram as incertezas da vida adulta. “Há muita coisa nesta música / Que não está no meu diário“, canta Anderson em History Channel, música que sintetiza parte das angústias que consomem o registro. Composições que se passam nas brechas da vida, sempre na iminência de um novo amor ou na antecipação de uma possível tragédia, reforçando o caráter melancólico que orienta o material.
Exemplo disso acontece em I Thought You’d Change, composição que trata do desejo em transformar uma antiga amizade em um novo relacionamento, mas que acaba consumida pelas incertezas vividas pelo protagonista. “Achei que você mudaria de ideia / Estou pegando fogo na hora certa / Me mande uma mensagem quando estiver lá fora / Não se desculpe se você está bem“, canta Anderson. A própria faixa de abertura funciona como um bom indicativo desse resultado, apontando a direção poética seguida pela banda no restante da obra. “Depois da queda / Eu finjo que é tudo minha culpa“, revela a letra da canção.
Embora consumido pela dor e a ausência de certeza que orienta a construção dos versos, Cartwheel está longe de parecer uma obra melodramática. Trata-se apenas de um registro realista. Canções que partem das angústias vividas por Anderson, mas que em nenhum momento deixam de seguir em frente. “Corações precisam de tempo para partir / Sangrar / Deixe seu corpo gritar“, canta em Spot Me 100, reforçando esse direcionamento dado ao disco. É como uma extensão natural daquilo que o músico havia testado em sua antiga banda, o Weed, porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível e liricamente apurada.
Para além do maior refinamento dado aos versos, Cartwheel é um trabalho que encanta pela truculência e uso totalmente ruidoso dos elementos. São ecos de Dinosaur Jr. e My Bloody Valentine, proposta que voz ou outra sufoca a identidade criativa do Hotline TNT, mas que em nenhum momento deixa capturar a atenção do ouvinte, vide composições como Beauty Filter. Enquanto os versos da canção tratam sobre as máscaras sociais adotadas por diferentes indivíduos (“Tente mentir / Não está certo“), guitarras sempre carregadas de efeitos surgem e desaparecem a todo instante, reforçando a potência de Anderson dentro de estúdio.
A diferença em relação a outros projetos do gênero, por vezes imersivos em excesso, está no dinamismo adotado pelo guitarrista. São músicas de um ou dois minutos que condensam décadas de referências de forma bem aplicada, por vezes urgente, vide a dobradinha formada pelas enérgicas I Know You e Son In Law. Mesmo quando desacelera momentaneamente, como em Maxine, o trabalho nunca deixa de atrair a atenção do ouvinte. Canções que vão de um canto a outro, confessam sentimentos e referências em uma espiral de elementos que vai da imagem de capa a cada mínimo fragmento poético e instrumental do disco.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.