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Crítica

Hovvdy

: "Hovvdy"

Ano: 2024

Selo: Arts & Crafts

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Lomelda e Florist

Ouça: Forever, Bubba e Make Ya Proud

8.1
8.1

Hovvdy: “Hovvdy”

Ano: 2024

Selo: Arts & Crafts

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Lomelda e Florist

Ouça: Forever, Bubba e Make Ya Proud

/ Por: Cleber Facchi 11/06/2024

Charlie Martin e Will Taylor estão longe de parecer artistas iniciantes. Pelo contrário, os músicos de Austin, no Texas, já contabilizam uma década de carreira e quatro bons álbuns de estúdio com o Hovvdy, projeto formado há exatos dez anos. Vem justamente dessa experiência e maior domínio sobre a própria criação que os dois músicos fazem do autointitulado quinto disco de inéditas um importante exercício de ruptura e transformação criativa, levando a sonoridade e temáticas incorporadas pela banda para outras direções.

Diferente dos lançamentos anteriores, onde havia uma maior predisposição ao uso de arranjos acústicos, os dois artistas parecem seguir de onde pararam no EP Billboard for My Feelings (2022), destacando a relação com a produção eletrônica e experimentações sutis que ampliam os horizontes do material. São estruturas discretas, contudo, fundamentais para engrandecer as melodias e harmonias de vozes que tanto evocam veteranos como The Shins e Death Cab For Cutie, como nomes recentes a exemplo de Alex G e Lomelda.

Mais do que isso, o homônimo registro de 19 músicas, sempre intercaladas entre composições de Martin e Taylor, cresce como um delicado exercício de exposição emocional. “Eu vi você pendurando a cabeça perto da janela / Vi você enxugando os olhos / Talvez alguma ajuda valha a pena, tente“, acolhe a letra de Forver, canção que ainda se derrete quando alcança o refrão: “sim, vou me apaixonar para sempre“. São estruturas contrastantes. Um misto de dor e sutileza que destaca a complexidade de qualquer relação.

Em geral, são composições que se aprofundam em experiências simples do cotidiano, mergulhando em conflitos pessoais, relacionamentos instáveis e momentos de maior vulnerabilidade, porém, dotadas de uma sensibilidade única. “Andando um passo de cada vez / Talvez não perca a cabeça / Bata na madeira, você disse / Faça uma grande diferença para você / Acorde limpo“, canta Martin em Clean, meticulosa criação que ainda abre passagem para Make Ya Proud, também marcada pela delicadeza dos versos.

Interessante notar que mesmo marcado pela intensa carga emocional, o trabalho em nenhum momento parece pesar sobre o ouvinte. Tão logo tem início, em Bubba, música que soa como uma criação perdida do The Postal Service, evidente é o esforço dos dois artistas em equilibrar temas sensíveis com arranjos e formações instrumentais que aproximam a dupla de um enquadramento pop. É como uma tentativa em dialogar com uma parcela ainda maior do público, porém, preservando a identidade criativa do Hovvdy.

Embora parta de uma abordagem ainda mais acessível em relação aos trabalhos que o antecedem, não há como ignorar o número excessivo de composições que estendem o repertório do disco para além do necessário. Falta ao disco o mesmo equilíbrio de obras como Taster (2016) e True Love (2021), proposta que compromete a experiência do ouvinte, mas em nenhum momento diminui a riqueza de repertório e sempre meticuloso processo de criação que, mesmo entre pequenas repetições, mantém sua qualidade.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.