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Crítica

Huerco S.

: "Plonk"

Ano: 2022

Selo: Incienso

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Lee Gamble e DJ Python

Ouça: Plonk IV e Plonk X

8.0
8.0

Huerco S.: “Plonk”

Ano: 2022

Selo: Incienso

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Lee Gamble e DJ Python

Ouça: Plonk IV e Plonk X

/ Por: Cleber Facchi 28/02/2022

Os minutos iniciais de Plonk (2022, Incienso) são essenciais para entender o som produzido por Brian Leeds no terceiro e mais recente trabalho de estúdio como Huerco S. Sequência ao repertório entregue em For Those of You Who Have Never (And Also Those Who Have) (2016), material que garantiu ao produtor do Kansas uma posição de destaque em diferentes listas com os melhores discos de música ambiente, o novo álbum estabelece na completa fragmentação dos elementos a passagem para um território totalmente inóspito. São canções que parecem pensadas para tensionar a experiência do ouvinte, produto do confesso desejo em perverter tudo aquilo que foi revelado ao público durante o lançamento do registro anterior.

Longe do rótulo de “música capitalista” que “não é intrusiva” e “não atrapalha, como se você ainda pudesse trabalhar no seu trabalho“, como comentou em entrevista ao Bandcamp, Leeds traz de volta parte da urgência explícita nas canções do introdutório Colonial Patterns (2013), porém, de forma essencialmente torta. São ambientações e costuras assíncronas que utilizam de uma abordagem irregular, tornando a experiência de ouvir o registro sempre imprevisível. É como um acumulo natural de tudo aquilo que o artista norte-americano tem produzido dentro e fora de estúdio em mais de uma década de carreira.

E isso fica bastante evidente em Plonk IV. Uma das primeiras composições do disco a serem reveladas ao público, a faixa preserva o reducionismo explícito nas criações de Leeds em estúdio, porém, aporta no mesmo território dançante que o produtor busca desenvolver durante as apresentações ao vivo. São pouco mais de cinco minutos em que Huerco S. vai de um canto a outro sem necessariamente perder o controle da própria obra, conceito que acaba se refletindo em diferentes momentos ao longo da trabalho. São canções como Plonk III e Plonk V em que parece testar os próprios limites, ritmos e possibilidades.

Perfeita representação desse resultado acontece na colaborativa Plonk IX. Inaugurada em meio a batidas, quebras e inserções reducionistas, a faixa utiliza de uma linguagem que preserva parte dos elementos apresentados ao longo da obra, porém, cresce na inusitada participação do rapper SIR E.U. É como se Leeds fosse de encontro ao mesmo rap labiríntico de artistas como Shabazz Palaces, estrutura que se completa pela inserção de formas abstratas e soturnas, direcionamento que acaba se refletindo na própria imagem de capa do registro, onde diferentes bifurcações se espalham em um ambiente acinzentado.

Entretanto, muito se engana quem pensa que essa busca de Leeds por um repertório menos aprazível distancie o trabalho de um som puramente atmosférico, íntimo do material entregue no disco anterior. Exemplo disso acontece na própria faixa de encerramento do álbum, a contemplativa Plonk X. Lenta e extensa, a composição de mais de 11 minutos convida o ouvinte a mergulhar em ambiente de emanações etéreas e inserções sempre econômicas. O mesmo resultado, porém, partindo de uma abordagem instigante, pode ser percebido em Plonk VI, música que destaca o uso melancólico dos sintetizadores, lembrando as criações de Oneohtrix Point Ever e outros nomes dotados de uma proposta bastante similar.

Livre de qualquer traço de linearidade, Leeds a exemplo de outros nomes recentes, como Lee Gamble e Space Afrika, garante ao público uma obra que exige ser desvendada pelo ouvinte. São pouco menos de 60 minutos em que o artista faz de cada composição um precioso exercício criativo, como um produto da inusitada combinação de ideias e referências que apontam para os mais variados campos da música. Instantes em que o produtor preserva traços do material apresentado em Colonial Patterns e For Those of You Who Have Never (And Also Those Who Have), porém, de forma sempre inquietante e provocativa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.