Image
Crítica

Idlibra

: "Muganga"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Drum and Bass, Techno

Para quem gosta de: Badsista e Carlos do Complexo

Ouça: Breganbass, Memame e Xrqnha

8.2
8.2

Idlibra: “Muganga”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Drum and Bass, Techno

Para quem gosta de: Badsista e Carlos do Complexo

Ouça: Breganbass, Memame e Xrqnha

/ Por: Cleber Facchi 26/05/2023

Muganga (2023, Independente), segundo a língua quimbundo, é a expressão utilizada para caracterizar pessoas de “trejeitos ou hábitos estranhos”. Outrora opressiva para a artista pernambucana Libra Lima, a Idlibra, a palavra foi justamente a escolhida para batizar o primeiro trabalho de estúdio da produtora que há tempos tem circulado pela cena cultural de Recife, é cofundadora do coletivo SCAPA e curadora do palco Kamikaze no Festival Coquetel Molotov. Um repertório de cinco faixas que abraça a estranheza e utiliza da inusitada combinação de elementos como estímulo para brincar com a interpretação do ouvinte.

Inaugurado pela potência de Breganbass, o trabalho diz a que veio logo nos primeiros minutos. Como o próprio título da composição indica, trata-se de uma insana costura rítmica que atravessa as pistas dos anos 1990, bebendo diretamente do drum and bass, para mergulhar em um dos estilos mais populares da cena pernambucana, o brega funk. A diferença está na imposição e fluidez adotada pela artista. São batidas e fragmentos de vozes que inviabilizam qualquer chance de respiro, como se cada mínimo componente da faixa empurrasse o ouvinte para frente, apontando a direção para o restante do material.

Mesmo quando desacelera momentaneamente, como na canção seguinte, Ração, prevalece o domínio e minucioso processo de criação da produtora pernambucana. Partindo de trechos de Te Uso e Jogo Fora, de MC Nahara e DJ Swat, Idlibra utiliza da lenta sobreposição dos elementos para capturar a atenção do ouvinte. Instantes em que a artista se distancia com parcimônia das pistas para investir em um material deliciosamente labiríntico, proposta que vai de encontro ao mesmo território de nomes como Kelela e LSDXOXO, porém, ganha ainda mais destaque pela base adornada por fragmentos de cantos ritualísticos.

Essa mesma riqueza de detalhes e pluralidade de elementos fica ainda mais evidente com a chegada de Tension. Enquanto os segundos iniciais da composição destacam o uso das batidas, tratando retalhos de vozes e sintetizadores de maneira sempre ritmada, minutos à frente, Idlibra invade o campo do etéreo. É como um R&B submerso que aponta para as criações de estrangeiras como ABRA, porém, preservando a identidade criativa da artista pernambucana, efeito dos atabaques que surgem em momentos pontuais da canção. Uma delirante sobreposição de elementos, ritmos e vozes que muda de direção a todo instante.

Nada que prejudique a construção de músicas prontas para as pistas. É o caso de Memame. Produzida em parceira com Geni, a composição de quase cinco minutos concentra o que há de melhor no som de Idlibra. São vozes de funk que se completam pelo permanente atravessamento das informações, como uma interpretação ainda mais potente do material entregue nos momentos iniciais da obra. Claro que essa urgência no processo de criação em nada diminui o refinamento dado à faixa. Exemplo disso pode ser percebido nas incontáveis camadas de sintetizadores que surgem e desaparecem ao longo da canção.

Intenso até os últimos segundos, Muganga encerra em grande estilo com a entrega de Xrqnha. Mesmo que parte dos elementos incorporados ao longo da canção tenham sido explorados pela artista em outros momentos do trabalho, vide o material entregue em Breganbass e Tension, tudo é tratado de forma tão caprichada que é difícil não se deixar conduzir pelo disparo das batidas e vozes sempre anfetaminadas. Um espaço de convergência que colide diferentes componentes rítmicos, referências e vozes de forma a estabelecer um vasto conjunto de elementos que caracterizam a turbulenta identidade criativa de Idlibra.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.