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Crítica

Indigo de Souza

: "All of This Will End"

Ano: 2023

Selo: Saddle Creek / Lab 344

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Miya Folik

Ouça: You Can Be Mean e Younger & Dumber

7.8
7.8

Indigo de Souza: “All of This Will End”

Ano: 2023

Selo: Saddle Creek / Lab 344

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Miya Folik

Ouça: You Can Be Mean e Younger & Dumber

/ Por: Cleber Facchi 11/05/2023

A escolha de Indigo de Souza em fazer de Younger & Dumber a primeira composição de All Of This Will End (2023, Saddle Creek / Lab 344) a ser apresentada ao público não se deu por acaso. Entregue pela cantora e compositora norte-americana em fevereiro deste ano, a faixa funciona como um olhar para o passado e uma reflexão agridoce sobre a adolescência conturbada da artista. “Quando eu era mais jovem / Mais jovem e orgulhosa / Eu não era ninguém / Você veio me machucar em todos os lugares certos“, canta em um doloroso exercício de resgate sentimental e poético que acaba se estendendo pelo restante da obra.

São recordações de um passado ainda recente, fresco, conceito que tem sido incorporado pela artista desde o introdutório I Love My Mom (2018), reforçado no posterior Any Shape You Take (2021), mas que ganha ainda mais destaque no repertório de All of This Will End. “Eu não posso acreditar que deixei você tocar meu corpo / Eu não posso acreditar que deixei você entrar / Você sabe o que fez / Você sabe o que você tirou de mim“, desabafa em You Can Be Mean, outra importante composição que destaca o peso da memória e o lirismo dilacerante que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do material.

É como se a artista utilizasse dos próprios tormentos para estreitar relações com o ouvinte. Composições que tratam de temas universais, como abandono, amores desfeitos e diferentes conflitos pessoais. “Estou perdendo para a escuridão?“, questiona em Losing, delicada criação que sintetiza parte dessas angústias, mergulhando fundo na mente e nas pequenas inquietações que pouco a pouco parecem sufocar a cantora. “Eu deixo meus dedos correrem, eu quero desligar meu cérebro“, confessa na faixa-título do trabalho, música que sutilmente contrasta a melancolia explicita nos versos com uma base instrumental caprichada.

Embora consumido pela melancolia dos temas, All of This Will End estabelece momentos de libertação sentimental que transportam o disco para um novo território. É o caso de Smog. Enquanto a base da canção reforça o lado acessível da artista, flertando de maneira particular com a música pop, versos centrados no melhor entendimento da cantora sobre as próprias emoções ampliam os limites da faixa. “Eu ganho vida à noite, quando todo mundo termina / Eu ganhei vida, é a hora certa para realmente começar a me divertir“, canta. O mesmo acontece na composição de abertura, a crescente Time Back. “Eu sinto que estou me deixando para trás“, reflete enquanto prepara o terreno e aponta a direção para o restante do trabalho.

Claro que isso está longe de parecer uma surpresa para quem há tempos acompanha a obra da artista. Desde a estreia, com I Love My Mom, De Souza utiliza de uma abordagem bastante similar, fatiando o disco entre momentos de calmaria e caos sentimental. A diferença em relação aos antigos trabalhos está na forma como a cantora trata desses sentimentos de maneira ainda mais explícita, por vezes crua. Mesmo o enquadramento dado aos instrumentos e vocais parece reforçar esse resultado, como em Always, criação que começa pequenas, cresce aos poucos e explode em uma combinação de guitarras e vozes berradas.

Ainda assim, não há como ignorar o fato de que boa parte das canções que integram o repertório de All of This Will End esbarram em temas e conceitos há muito incorporados pela artista. Mesmo a base instrumental do disco, sustentada no cruzamento entre batidas firmes e guitarras altamente ruidosas, pouco avança quando próxima do material entregue no trabalho anterior. Composições que esbarram em pequenas repetições, porém, de um jeito ou de outro, contribuem para a formação da identidade criativa da cantora, conceito que vai da construção das faixas à sempre característica imagem de capa. É como a passagem para um universo particular onde romances, traumas e conquistas se cruzam a todo instante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.