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Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Jovens Ateus e gorduratrans

Ouça: Apogeu, Vida Em Paranoia e Sinto Medo

8.5
8.5

Inês É Morta: “Ilha”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Jovens Ateus e gorduratrans

Ouça: Apogeu, Vida Em Paranoia e Sinto Medo

/ Por: Cleber Facchi 10/10/2023

O timbre metálico da guitarra, a linha de baixo destacada e uma bateria seca, por vezes matemática. Em um intervalo de poucos minutos, somos prontamente transportados para dentro do cenário acinzentado que marca o primeiro trabalho de estúdio do grupo Inês É Morta, Ilha (2023, Independente). Importante nome do underground paulistano, o quarteto formado por Camila Kohn, Daniel Lima, Lucas Krokodil e Danilo Grilo aponta esteticamente para a música produzida entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980, porém, estabelece na escolha dos temas e versos sempre sufocantes um diálogo com o presente.

Sinto medo de você / Sinto medo de mim“, repete Kohn na urgente Sinto Medo, música que não apenas sintetiza parte das angústias que consomem o disco, como sustenta na completa fluidez dos arranjos e andamento rítmico parte da arquitetura instrumental que orienta a formação das canções. Enquanto os versos soam como uma manifestação poética do caos cotidiano que invade qualquer centro urbano, guitarras carregadas de efeitos vão de encontro ao mesmo território soturno de veteranos do pós-punk brasileiro, como As Mercenárias e Vzyadoq Moe. Nada que comprometa a identidade criativa do quarteto.

Parte desse resultado vem dos esforço da banda, sempre em companhia do produtor Rafael Crespo, ex-integrante do Planet Hemp, em estender a duração das composições pelo tempo que elas precisam durar. Dessa forma, o grupo rompe com o direcionamento efêmero e imediatismo que tanto caracteriza outras criações do gênero. Exemplo disso fica bastante evidente em Apogeu. São pouco mais de quatro minutos em que o quarteto se aventura com liberdade na construção dos arranjos, detalhando incontáveis camadas instrumentais que concedem um caráter labiríntica à canção, como um convite a se perder dentro dela.

Claro que isso não impede a construção de composições marcadas pela urgência dos elementos. É o caso de Vida Em Paranoia. Completa pela participação de Edgard Scandurra, um dos membros do Ira! e dono de parte guitarras que invadem a canção, a música de apenas dois minutos destaca a capacidade do grupo em administrar cada elemento de forma sempre competente. O mesmo pode ser percebido em Futuro Pt. II, faixa que, embora curta, não economiza nos detalhes, reforçando a potência das guitarras e efeitos que rompem com o som empoeirado de boa parte do registro para mergulhar em um novo território criativo.

Vem desse esforço do grupo em brincar com as possibilidades em um universo há muito explorado por diferentes artistas o grande acerto de Ilha. Mesmo ancorado em conceitos bastante característicos do estilo que serve de inspiração ao quarteto, o trabalho reserva algumas surpresas. A própria composição de encerramento do disco funciona como uma boa representação desse resultado, pavimentando o caminho para o futuro da banda. Livre da urgência que marca os minutos iniciais da obra, a canção ganha forma em um intervalo de quase seis minutos, abrindo espaço para o saxofone atmosférico de Livia Cianciullona.

Com todos esses componentes em mãos, o grupo garante ao público uma obra essencialmente versátil, porém, consistente. Seja pela seleção dos timbres, vozes parcialmente submersas e bases que alternam entre a limpidez e a corrupção dos arranjos, tudo gira em torno de um conceito bastante característico, próprio da banda. Mesmo a escolha dos temas parece contribuir para esse resultado, oscilando entre momentos de calmaria e caos que partem das experiências vividas nas ruas de São Paulo, ganham novo tratamento na poesia atormentada que embala os versos e se completam pela fluidez dos arranjos. Um típico disco de estreia, sempre exploratório, mas que carrega décadas de referências, conceitos e vivências.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.