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Crítica

IZA

: "Afrodhit"

Ano: 2023

Selo: Warner Music Brasil

Gênero: Pop, R&B, Rap

Para quem gosta de: Ludmilla e Gloria Groove

Ouça: Que Se Vá, Nunca Mais e Sintoniza

5.5
5.5

IZA: “Afrodhit”

Ano: 2023

Selo: Warner Music Brasil

Gênero: Pop, R&B, Rap

Para quem gosta de: Ludmilla e Gloria Groove

Ouça: Que Se Vá, Nunca Mais e Sintoniza

/ Por: Cleber Facchi 08/08/2023

Términos de relacionamento costumam render grandes obras e a história da música está repleta de bons exemplos. Não é o caso de Afrodhit (2023, Warner Music Brasil). Primeiro álbum de estúdio de IZA após um intervalo de cinco anos, o sucessor de Dona de Mim (2018) busca inspiração no fim do casamento da cantora e compositora carioca com o produtor Sérgio Santos, naturalmente cumpre sua função como um delicado exercício de exposição sentimental, porém, peca pelos excessos e constantes desvios de percurso.

Inaugurado pela poesia confessional de Nunca Mais, o trabalho começa bem. “Ou fica pra vida toda, ou pra nunca mais“, canta em um precioso ato de libertação, apontando a direção seguida em parte expressiva do material. São composições que mergulham fundo nas emoções e dores sentidas pela artista, como um acumulo natural das experiências vividas pela cantora nos quatro anos em que esteve com Santos. O problema é que para cada boa canção que abastece o álbum, há sempre uma contraparte que não apenas desvirtua o registro da temática principal, como pouco ou nada acrescenta ao repertório de Afrodhit.

Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Fé Nas Maluca, parceria com MC Carol em que utiliza de um falso senso de irmandade e empoderamento artificial como ferramenta de exaltação ao consumo. Esse mesmo direcionamento criativo, porém, partindo de um esvaziamento ainda maior, pode ser percebida em Mega da Virada, colaboração com Russo Passapusso em que raspa na temática racial (“Sufocaram a nossa voz / Trezentos anos sós“), porém, tropeça na ostentação oca de uma composição que parece vulgarmente planejada como tema para a campanha de final de ano da Caixa Econômica Federal.

Surgem ainda tentativas de explorar novas possibilidades, como no estudo de personagem em Terê, faixa que destaca a produção sempre caprichada de Papatinho, mas que reverbera como uma cópia barata das diferentes musas apresentadas por Jorge Ben Jor na década de 1970. O próprio encontro com Tiwa Savage, conhecida pela pluralidade rítmica de suas criações e detentora do título de “Rainha do Afrobeats”, resulta na construção de um material tão genérico e raso que qualquer outro convidado poderia ser encaixado ali.

Mesmo pontuado por momentos de maior instabilidade, prevalece na força das emoções e busca por libertação o estímulo para algumas das melhores composições que abastecem o trabalho. Em Que Se Vá, por exemplo, a dramaticidade dá lugar à acidez, transportando o álbum para um novo território criativo. “Ouvi dizer que tá andando de carrão … Viagem cara, ontem tava em Milão / Sinto em dizer que eu cancelei o teu cartão“, rima. Nada que impossibilite a apresentação de faixas marcadas pelos desejos e entrega da artista, vide o encontro com L7NNON, na provocativa Fiu Fiu, e Sintoniza, deliciosa parceria com Djonga.

Pena que todas essas composições parecem dissolvidas em meio ao vasto acervo de faixas que pouco contribuem para o desenvolvimento do trabalho. Observado atentamente, Afrodhit é um registro que funciona no campo das ideias, buscando escancarar as dores e angústias vividas pelo recente término de relacionamento da artista carioca, mas que na prática ecoa de maneira confusa, incapaz de se decidir sobre qual direção seguir. São diferentes atravessamentos de informações, propostas criativas e novos colaboradores que acabam ocultando o que há de mais interessante no material: os sentimentos de IZA.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.