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Crítica

J Mascis

: "What Do We Do Now"

Ano: 2024

Selo: Sub Pop

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Dinosaur Jr e Lou Barlow

Ouça: Can’t Believe We're Here e I Can’t Find You

6.0
6.0

J Mascis: “What Do We Do Now”

Ano: 2024

Selo: Sub Pop

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Dinosaur Jr e Lou Barlow

Ouça: Can’t Believe We're Here e I Can’t Find You

/ Por: Cleber Facchi 15/02/2024

No início da década passada, quando anunciou que daria vida ao primeiro trabalho em carreira solo, J Mascis encontrou no uso de instrumentos acústicos um precioso componente de separação entre o que seria encarado como uma obra do Dinosaur Jr. e um registro particular. O resultado desse processo está na entrega de discos como Several Shades of Why (2011), Tied to a Star (2014) e Elastic Days (2018) que, ao serem comparados com I Bet on Sky (2012) e Give a Glimpse of What Yer Not (2016), pareciam conduzir o som produzido pelo instrumentista norte-americana para um novo e sempre curioso território criativo.

Entretanto, com a chegada de What Do We Do Now (2024, Sub Pop), mais recente álbum de Mascis em carreira solo, essa separação chega ao fim. Longe dos temas acústicos que pareciam orientar os discos anteriores, o músico não apenas posiciona a guitarra em primeiro plano, como passa a replicar uma série de elementos bastante característicos de sua principal banda. Exemplo disso fica mais do que evidente na introdutória Can’t Believe We’re Here, canção que parte uma abordagem típica das antigas criações do artista, porém, estabelece no solo destacado uma fuga daquilo que foi revelado em Several Shades of Why.

Se por um lado esse novo direcionamento traz um sopro de frescor aos trabalhos de Mascis em carreira solo, por outro, fica cada vez mais difícil estabelecer onde começa e onde termina cada um dos projetos encabeçados pelo músico. Da bateria seca que emula o estilo de Murph, parceiro de banda no Dinosaur Jr, passando pelo timbre das guitarras, tudo gira em torno de um repetitivo conjuntos de ideias, como uma extensão natural daquilo que o artista e seus companheiros haviam testado há três anos, em Sweep It Into Space (2021). Falta surpresa ao disco, como se o guitarrista fosse incapaz de ampliar o próprio domínio.

Embora previsível, não estamos tratando de um trabalho produzido por um artista iniciante, mas de um hábil instrumentista capaz de impressionar mesmo nos momentos de maior conforto da obra. Exemplo disso pode ser percebido em Set Me Down, composição que segue a trilha dos antigos registros do músico, porém, estabelece na melancolia fina dos versos e potência das guitarras uma importante ferramenta para capturar a atenção do ouvinte. A própria faixa-título, logo nos minutos iniciais do disco, é outra que encanta pela fluidez dos elementos, como um indicativo claro da força criativa que orienta as criações de Mascis.

Dos poucos momentos em que resgata a essência dos últimos discos em carreira solo, Mascis encanta pela sensibilidade dos versos e maior refinamento dado aos arranjos. É o caso de I Can’t Find You. Dos versos que funcionam como um passeio pela mente do instrumentista (“Me sentindo tão obscuro / Vagando pela minha cabeça / Isso me deixou inseguro / Em vez disso, estou te implorando“), passando pelo uso calculado dos pianos e bases acústicas, tudo parece pensado para estreitar laços com ouvinte. O mesmo acontece na delicada It’s True, canção que avança aos poucos, deixando a inserção da guitarra para os minutos finais.

Tão atrativo quanto previsível, What Do We Do Now funciona como uma síntese clara de tudo aquilo que Mascis tem explorado ao longo da última década. São composições que pouco avançam criativamente quando próximas do que foi revelado pelo guitarrista desde o regresso do Dinosaur Jr., na segunda metade dos anos 2000, mas que continuam a encantar pela forte vulnerabilidade explícita nos versos e força dos instrumentos. É como a passagem para um universo próprio do artista, proposta que, para o bem ou para mal, estabelece todos os conceitos que embalam a experiência do ouvinte até os minutos finais do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.