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Crítica

Jack White

: "Entering Heaven Alive"

Ano: 2022

Selo: Third Man Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Raconteurs e The White Stripes

Ouça: Love Is Selfish e If I Die Tomorrow

5.8
5.8

Jack White: “Entering Heaven Alive”

Ano: 2022

Selo: Third Man Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Raconteurs e The White Stripes

Ouça: Love Is Selfish e If I Die Tomorrow

/ Por: Cleber Facchi 04/08/2022

Durante mais de uma década, a guitarra foi encarada como a principal ferramenta de trabalho para Jack White. Está na produção ruidosa que marca os registros lançados pelo The White Stripes ou mesmo nas criações do paralelo The Raconteurs. Entretanto, desde que deu vida ao repertório em carreira solo, o cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista tem investido na formação de um material em que destaca o uso de componentes acústicos, fazendo dos violões e pianos um estímulo natural para a própria obra. E é exatamente isso que o ouvinte encontra em Entering Heaven Alive (2022, Third Man Records).

Segundo trabalho de estúdio de White em um intervalo de poucos meses, Entering Heaven Alive nasce como um contraponto ao material entregue no ainda recente Fear of the Dawn (2022). Enquanto o disco que revelou composições como Taking Me Back e Hi-De-Ho parecia exaltar a potência das guitarras, lembrando a boa fase do músico no início dos anos 2000, com o presente álbum, o artista segue de onde parou em Lazaretto (2014). São canções marcadas pela atmosfera empoeirada, uso de temas acústicos e estruturas que confessam alguma das principais referências criativas do compositor estadunidense.

Uma das primeiras composições do trabalho a serem reveladas ao público, Love Is Selfish sintetiza com naturalidade tudo aquilo que White busca desenvolver ao longo da obra. Enquanto os versos refletem o lirismo angustiado do artista de Detroit (“O amor é uma coisa tão egoísta / Sempre chorando, ‘eu, eu, eu’, / Sempre tentando atrapalhar todos os meus planos“), o dedilhado acústico funciona como um precioso pano de fundo instrumental, proposta que faz lembrar da sutileza de City Lights e demais criações que integram o fino repertório montado para a coletânea Jack White Acoustic Recordings 1998-2016 (2016).

Nada que impossibilite o uso de guitarras elétricas ou mesmo momentos de maior ruptura criativa. A própria I’ve Got You Surrounded (With My Love), vinda logo em sequência, evidencia esse resultado. Mesmo partindo de uma ambientação contida, quase jazzística, a faixa rapidamente assume diferentes percursos, rompendo com o restante do trabalho. Já em outras composições, como na conhecida If I Die Tomorrow, o uso ruidoso do instrumento se revela de maneira complementar, como um acréscimo ocasional, direcionamento também empregado em All Along the Way, logo nos minutos iniciais do álbum.

Embora essenciais, esses pequenos atravessamentos são insuficientes para romper com a atmosfera morosa de Entering Heaven Alive. Seja pela economia dos arranjos ou distribuição das faixas no decorrer do disco, não são poucos os momentos em que White se perde em uma seleção de músicas tediosas ou que parecem emular a obra de outros artistas. Exemplo disso acontece em Queen Of The Bees, composição que evoca Tom Waits, porém, livre do acabamento áspero que parece tão característico do cantor norte-americano. Canções que soam como verdadeiras sobras de estúdio, sempre fadadas ao esquecimento.

Observado em proximidade ao repertório entregue no ruidoso Fear of the Dawn, prevalece a sensação de uma obra marcada pelos excessos. Não seria melhor combinar dentro de um único registro o que há de melhor nessas duas porções que foram produzidas e gravadas simultaneamente? O próprio Jack White, no lançamento do primeiro álbum em carreira solo, Blunderbuss (2012), já indicou que essa abordagem equilibrada, alternando entre criações acústicas e elétricas, pode servir de base para um trabalho muito mais atrativo, conceitualmente dinâmico e livre dos exageros que consomem Entering Heaven Alive.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.