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Crítica

Jambu

: "Tudo É Mt Distante"

Ano: 2023

Selo: Bolo de Rolo

Gênero: Indie Rock, Pop Rock

Para quem gosta de: Terno Rei e Maglore

Ouça: Caso Sério, Astronauta e Sei Lá

7.5
7.5

Jambu: “Tudo É Mt Distante”

Ano: 2023

Selo: Bolo de Rolo

Gênero: Indie Rock, Pop Rock

Para quem gosta de: Terno Rei e Maglore

Ouça: Caso Sério, Astronauta e Sei Lá

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2023

Frustrações, relacionamentos instáveis e pequenos delírios psicodélicos. Em Tudo É Mt Distante (2023, Bolo de Rolo), estreia do grupo manauara Jambu, cenas e acontecimentos simples do cotidiano se transformam no principal componente criativo para o quarteto formado por Gabriel Mar (voz e guitarra), Roberto Freire (guitarra), Yasmin Costa (voz e bateria) e Gustavo Pessoa (baixista). Canções que partem da sensação de deslocamento físico e emocional vivido pelos próprios integrantes da banda amazonense, mas que a todo momento estabelecem laços sentimentais e estreitam relações com o ouvinte de forma bastante sensível.

Choro porque tenho medo de não poder voltar / Do universo esse é o segredo, quem vai me ensinar?“, questiona Mar logo nos minutos iniciais do trabalho, apontando o cenário nebuloso que será explorado pelo público ao longo da obra. São canções marcadas pelo forte aspecto radiofônico, talvez desprovidas de grandes transformações ou momentos de maior ruptura estética, porém, difíceis de serem ignoradas. E isso fica bastante evidente com a chega Astronauta. Das guitarras cintilantes, passando pela letra que gruda feito chiclete na cabeça do ouvinte (“Prefiro ser estranho/ Ao fingir sempre entender / Nunca sei quando é sonho / Ou lembrança de você“), cada mínimo fragmento evidencia o domínio do quarteto em estúdio.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo durante toda a execução do trabalho que tem produção assinada em conjunto por Lorenzo Tomaselli e Lucas Cajuhy. São estruturas contrastante que combinam o uso ruidoso das guitarras com bases melódicas e versos que valorizam o que há de mais ordinário nas experiências humanas. “Deixa eu mergulhar pra ver / Já que tô aqui vou me molhar / Não temos nada a temer / Esquece esse medo de errar“, cresce a letra de Caso Sério, música que soa como um convite a se perder pelo cenário desbravado pelo grupo. Uma intensa combinação de elementos que silencia somente com a chegada da faixa seguinte, Sacanagem, um pop rock enevoado que lembra nomes como Terno Rei.

Com a chegada de Viajei, quinta canção do disco, o grupo peca pela pobreza das rimas (“Eu falo sério, sem exagero / Mesmo que eu tenha que dividir o banheiro“), porém, mantém firme a consistência dos arranjos e ainda abre passagem para a inusitada Sei Lá. Com um pé no reggae e a linha de baixo sempre reforçada, lembrando as criações de Charlie Brown Jr, a composição transporta o ouvinte para um novo território criativo e ainda prepara o terreno para a segunda metade do disco. A partir desse ponto, cada faixa se transforma em um objeto específico, vide o material entregue em Criança, música que destaca a melancolia dos versos, chama a atenção pelo uso inesperado do saxofone e evidencia o lado contemplativo da banda.

Logo em seguida, com a chegada de Não Vou Ficar Legal, uma completa perversão desse resultado. Pouco menos de dois minutos em que guitarras pegajosas, lembrando as criações de estrangeiros como Real Estate e Beach Fossils, se completam pela fluidez dos versos. O mesmo resultado acaba se refletindo na também curtinha Você Não Sabe De Onde Eu Vim, composição que aponta para a década de 1980, porém, preservando a identidade do grupo. São letras marcadas pelo teor agridoce das temáticas, estrutura que ganha ainda mais destaque com a sequência formada por A Vida Tem Dessas e Não Vou Fugir Daqui.

Escolhida para o fechamento do disco, Saudade rompe significativamente com o restante da obra, cai na formatação previsível de uma balada de encerramento, porém, convence pela inegável sensibilidade dos versos. “Mesma sala, mesmo lar / Mesmo quarto no lugar / Faz falta, ter você aqui“, canta Mar em uma delicada reflexão sobre a morte e a ausência daqueles que nos deixaram. É como um exercício talvez sufocante quando próximo dos temas e da leveza que orienta o ouvinte durante toda a execução do trabalho, mas que apenas confirma a versatilidade e riqueza de ideias que embala o grupo manauara.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.