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Crítica

Janelle Monáe

: "The Age of Pleasure"

Ano: 2023

Selo: Wondaland / Bad Boy / Atlantic

Gênero: R&B, Reggae, Afrobeats

Para quem gosta de: Chloe x Halle e Ravyn Lenae

Ouça: Lipstick Lover, Float e The Rush

6.8
6.8

Janelle Monáe: “The Age of Pleasure”

Ano: 2023

Selo: Wondaland / Bad Boy / Atlantic

Gênero: R&B, Reggae, Afrobeats

Para quem gosta de: Chloe x Halle e Ravyn Lenae

Ouça: Lipstick Lover, Float e The Rush

/ Por: Cleber Facchi 13/06/2023

A última vez que Janelle Monáe deu vida a um novo trabalho de estúdio fomos presenteados com uma de suas maiores criações, Dirty Computer (2018). Pensado para além do repertório que revelou músicas como Make Me Feel e I Like That, o registro não apenas ampliou o universo conceitual apresentado pela artista no início da década passada, como veio acompanhado de um média-metragem que destacava o minucioso processo de composição da cantora. Talvez por conta dessa riqueza de detalhes previamente ostentados seja tão difícil sentir o mesmo impacto em The Age of Pleasure (2023, Wondaland / Bad Boy / Atlantic).

Livre da temática futurística, andróides e toda a base conceitual apresentada ao público no introdutório The ArchAndroid (2010), Monáe se concentra na produção de um material banhado pelo clima quente do verão e as descobertas relacionadas à própria sexualidade. É como se a artista rompesse de maneira efetiva com a identidade de Cindi Mayweather para viver suas próprias experiências. “Eles dizem que eu pareço melhor do que / David Bowie em Moonage Daydream … Faz tempo que não me vejo assim / Eu sou jovem, sou negra e sou selvagem“, rima em Haute, música que sintetiza parte dos temas ao longo da obra.

São canções que tratam sobre os desejos mais profundos da artista e as experiências vividas desde que se revelou como uma pessoa pansexual. Uma celebração ao sexo, aos diferentes corpos e à libertação em um cenário cada vez mais conservador da sociedade estadunidense. “Querida, mergulhe / Porque a água está boa / Sentindo essa alta vibração / Deslizando no toboágua / Agora é a minha hora“, canta em Water Slide, uma deliciosa metáfora sobre o prazer feminino, direcionamento que vai da introdutória e já conhecida Float, colaboração com Seun Kuti & Egypt 80, à composição de encerramento do trabalho, A Dry Red.

O problema é que The Age of Pleasure nunca vai além disso. São diferentes interpretações sobre um mesmo tema, como se o álbum fosse reduzido a um limitante território criativo. Em Dirty Computer, por exemplo, a relação de Monáe com o sexo era presente durante toda a execução do material, como na ode à vagina em Pynk, porém, pontuado por outras questões também pertinentes, como na discussão sobre o cerceamento das mulheres negras em Django Djane. Mais do que isso, muitas das composições reveladas no presente trabalho ecoam de maneira incompleta, como esboços ou mesmo ideias ainda em formação.

Exemplo disso fica bastante evidente em alguns dos encontros de Monáe com outros parceiros ao longo do trabalho. De Grace Jones, em Ooh La La, passando por Sister Nancy, em The French 75, tudo parece subaproveitado pela artista que nos últimos anos tem se dedicado muito mais à carreira como atriz do que o ofício como cantora. Claro que nem tudo parece perdido em The Age of Pleasure. Seja no reforço dado às rimas, em Phenomenal, ao bem sucedido encontro com Amaarae e Nia Long, na ótima The Rush, sobram momentos em que a norte-americana brilha em estúdio e captura sem dificuldades a atenção do ouvinte.

Descrito pela cantora como uma “carta de amor à diáspora” e uma celebração aos diferentes ritmos vindos do continente africano, The Age of Pleasure cumpre com naturalidade esse propósito, vide a riqueza de estilos que abastece o trabalho, porém, peca pela repetição de temas. Felizmente, tudo se resolve em um intervalo de poucos minutos, o que impede o ouvinte de ter uma experiência necessariamente exaustiva. Como indicado logo na imagem de capa, trata-se apenas de um ensolarado exercício de libertação. Uma curva breve e talvez superficial em relação aos antigos registros de Monáe, mas ainda assim atrativa.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.