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Ano: 2021

Selo: Dead Oceans

Gênero: Indie Pop, Art Pop, Rock

Para quem gosta de: Jay Som, Mitksi e Soccer Mommy

Ouça: Be Sweat e Posing In Bondage

8.5
8.5

Japanese Breakfast: “Jubilee”

Ano: 2021

Selo: Dead Oceans

Gênero: Indie Pop, Art Pop, Rock

Para quem gosta de: Jay Som, Mitksi e Soccer Mommy

Ouça: Be Sweat e Posing In Bondage

/ Por: Cleber Facchi 09/06/2021

Não se deixe enganar pela colorida imagem de capa de Jubilee (2021, Dead Oceans). Por trás da fina estética e tons amarelados que emanam da fotografia de Peter Ash Lee, sobrevive uma obra ainda acinzentada. São faixas que, mesmo distantes da temática do luto incorporada aos antecessores Psychopomp (2016) e Soft Sounds from Another Planet (2017), dois primeiros trabalhos de estúdio de Japanese Breakfast, evidenciam as angústias e a forte relação de Michelle Zauner com a morte da própria mãe, vítima de um câncer no pâncreas, em 2014. Canções ainda consumidas pela dor e permanente sensação de sufocamento da multi-instrumentista de origem sul-coreana, porém, ampliadas de forma a incorporar diferentes temáticas e conflitos sentimentais vividos pela artista.

Entretanto, a grande beleza de Jubilee, assim como o material apresentado em Soft Sounds from Another Planet, está na forma como Zauner brinca com os contrastes. São canções que preservam o lirismo melancólico da artista, porém, estabelecem no completo refinamento dos arranjos e melodias ensolaradas um importante elemento de contraposição. Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do disco, em Paprika. Enquanto os versos discutem o isolamento vivido pela cantora – “Mas sozinha pareço estar morrendo” –, musicalmente a instrumentista investe em temas orquestrais. São cordas, metais e a bateria marcial que ora aponta para a parada onírica da animação de Satoshi Kon que da título à faixa, ora evoca a grandiosidade de coletivos como Broken Social Scene.

É justamente esse esmero no processo de composição que torna a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. Cercada de colaboradores, como o multi-instrumentista e parceiro de banda Craig Hendrix, o músico Jack Tatum, do Wild Nothing, e o Alex Giannascoli, o Alex G, Zauner investe na produção de um repertório onde tudo salta aos ouvidos. São incontáveis camadas de sintetizadores, texturas de guitarras e o uso destacado dos metais, como um avanço claro em relação ao material entregue no último disco. Perfeita representação desse resultado acontece em Slide Tackle, música que reflete a fluidez dos arranjos, solos labirínticos e o inusitado uso do saxofone. Um precioso exercício de refinamento estético que evidencia o completo domínio da artista dentro de estúdio.

Claro que isso está longe de parecer uma surpresa para quem há tempos acompanha o trabalho de Zauner. Desde a estreia com Psychopomp que musicista tem investido na produção de um repertório essencialmente detalhista. A diferença está na forma como a cantora alcança um ponto de equilíbrio entre o uso de estruturas complexas e faixas voltadas ao pop. Não por acaso, Be Sweet foi a primeira composição do disco a ser apresentada ao público. São ganchos cantaroláveis que se espalham em meio a guitarras empoeiradas, por vezes íntimas do pop nostálgico de artistas como Sky Ferreira. O mesmo tratamento acaba se refletindo minutos à frente, em Savage Good Boy, registro que evidencia o uso de movimentos pouco usuais de guitarras e sintetizadores, brinca com a fragmentação das vozes, mas em nenhum momento deixa de dialogar com o público, efeito direto da letra que, mesmo sóbria, gruda na cabeça do ouvinte. “E seremos tão ricos que serei absolvido de questionamentos / Que todo o meu mau comportamento foi apenas um esforço necessário“, canta em uma minuciosa reflexão sobre a postura dominadora e permanente busca por controle de homens ricos.

Esse mesmo caráter provocativo na construção dos versos acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. Da discussão sobre libertação sexual e monogamia, em Posing In Bondage (“Esperando por você / Acabada e bêbado / Feita e corrigida“), música que reflete o lado mais acessível e melódico do disco, à completa entrega sentimental de Posing for Cars (“Eu sou apenas uma mulher com necessidades“), registro que ainda chega acompanhada de um belíssimo solo de guitarra, Zauner reserva ao público um repertório essencialmente amplo, mesmo que contido pelas emoções e experiências pessoais da instrumentista. São canções de amor, reflexões sobre o atual cenário político, a relação com a morte e a necessidade de interpretar os próprios conflitos.

Importante ponto de transformação na carreira da cantora, Jubilee, como o próprio título aponta, nasce como um exercício de libertação pessoal e busca por novas possibilidades. É como se a musicista transportasse para dentro de estúdio tudo aquilo que tem vivido nos últimos anos, proposta que vai da ausência da mãe à relação de cumplicidade com o marido e também parceiro de banda, o músico Peter Bradley. Não por acaso, cada composição nasce como um exercício isolado. São fragmentos que tanto confessam referências, como parecem transportar realizadora e ouvinte para um novo território criativo, produto de uma obra que talvez parecesse confusa nas mãos de um artista iniciante, porém, brilhantemente conduzidas pelas mãos e sentimentos expressos por Zauner.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.