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Crítica

Jeff Rosenstock

: "Hellmode"

Ano: 2023

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Illuminati Hotties e PUP

Ouça: Liked U Better, Doubt e Dumb

8.0
8.0

Jeff Rosenstock: “Hellmode”

Ano: 2023

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Illuminati Hotties e PUP

Ouça: Liked U Better, Doubt e Dumb

/ Por: Cleber Facchi 25/01/2024

Jeff Rosenstock é sempre uma garantia de grandes obras. Em atuação desde a segunda metade dos anos 1990, quando integrou projetos como Bomb the Music Industry! e The Arrogant Sons of Bitches, o artista norte-americano tem feito das próprias criações em carreira solo um acumulo natural de tudo aquilo que tem explorado em estúdio há quase três décadas. Exemplo mais recente disso pode ser percebido no repertório plural de Hellmode (2023, Polyvinyl), registro que destaca a capacidade do artista em transitar por entre estilos de forma sempre imprevisível, porém, preservando o domínio criativo do próprio material.

Concebido no verão de 2022, durante um período de isolamento de Rosenstock no Parque Nacional de Joshua Tree, quando teve de lidar com o cancelamento de uma série de shows por conta da Pandemia de Covid-19, Hellmode mostra um artista tão entusiasmados quanto nos antecessores Post (2018) e No Dream (2020). A própria escolha de Will U Still U como composição de abertura funciona como uma efetiva representação desse resultado. Pouco mais de três minutos em que o artista parte de uma base talvez econômica para mergulhar em uma insana combinação de estilos que vai do pop punk ao pós-hardcore.

A partir desse ponto, cada nova composição vai de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro confuso. Em sua maioria, são composições que começam pequenas, como se Rosenstock escondesse o jogo, mas que inesperadamente mudam de direção e levam o som produzido pelo artista para um novo território criativo. Não por acaso, o cantor fez de Liked U Bettera primeira faixa do disco a ser trabalhada durante a divulgação do material. Enquanto os versos detalham a confusão de sentimentos que se apoderam do guitarrista, arranjos acústicos desembocam em um ambiente catártico.

Entretanto, esses momentos de maior grandeza só fazem sentido justamente pela capacidade do artista em garantir ao público uma obra equilibrada, estabelecendo pequenos respiros criativos que evidenciam a suavidade do músico. Sétima faixa do disco, Healmode funciona como uma boa representação desse resultado. Entre versos descritivos que refletem as inseguranças durante o período pandêmico (“As lojas estarão cheias de pessoas tentando comprar seus mantimentos / Por enquanto eu estou parado ao luar me perguntando quando tudo isso vai acabar?“), arranjos acústicos aos poucos se conectam à letra da canção.

Essas pequenas oscilações e estruturas contrastantes servem de estímulo para a formação de algumas das principais canções do disco. É o caso de Dumb. Inaugurada em meio a guitarras e batidas contidas, sempre regidas pela poesia inquietante de Rosenstock, a faixa lentamente se converte em um turbilhão emocional, poético e instrumental que destaca a força criativa do músico. Mesmo quando parte de uma abordagem urgente, como em I Wanna Be Wrong e Graveyard Song, o álbum vai além, detalhando incontáveis camadas que levam o trabalho para novas direções, evidenciando o completo amadurecimento do instrumentista.

Com base nesse direcionamento, Rosenstock se permite orbitar o mesmo universo criativo que tem sido explorado desde os introdutórios We Cool? (2015) e Worry (2016), porém, partindo de um evidente senso de atualização. A própria construção dos versos, inspirados pelo período pandêmico, contribui ainda mais para esse resultado, destacando a vulnerabilidade emocional do artista de um jeito poucas vezes antes visto. Canções que tratam sobre acolhimento, dor e as pequenas incertezas da vida enquanto se completam pela potência das guitarras que se projetam com grandiosidade até os momentos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.