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Crítica

Jenny Lewis

: "Joy'All"

Ano: 2023

Selo: Blue Note

Gênero: Rock, Alt. Country

Para quem gosta de: Neko Case e Waxahatchee

Ouça: Puppy and a Truck e Essence of Life

7.3
7.3

Jenny Lewis: “Joy’All”

Ano: 2023

Selo: Blue Note

Gênero: Rock, Alt. Country

Para quem gosta de: Neko Case e Waxahatchee

Ouça: Puppy and a Truck e Essence of Life

/ Por: Cleber Facchi 05/07/2023

Jenny Lewis sempre encontrou nas próprias vivências, traumas e inquietações um estímulo natural para o processo de composição. De relacionamentos fracassados à infância problemática como atriz mirim, sobram momentos em que a artista norte-americana trouxe de volta recordações empoeiradas ou mesmo memórias ainda recentes em um delicado exercício de exposição emocional. São composições sempre tocantes, por vezes íntimas apenas da cantora, mas que estabelecem nesse aspecto confessional uma ferramenta de diálogo com o ouvinte, direcionamento que volta a se repetir em Joy’All (2023, Blue Note).

Sequência ao material apresentado em On The Line (2019), o trabalho teve parte as canções pensadas pela artista nos meses que antecedem a pandemia de Covid-19, porém, foi interrompido por conta do período de isolamento social e retomado posteriormente em colaboração com o produtor Dave Cobb (Sturgill Simpson, Jason Isbell). O resultado desse processo criativo está na entrega de um repertório marcado pelo aspecto contemplativo, mas que em nenhum momento oculta a suavidade e humor tão característico de Lewis.

Meus 40 anos estão chutando minha bunda / E entregando-os para mim em um copo de margarita“, reflete na divertida Puppy and a Truck. Primeira composição do disco a ser apresentada ao público, a faixa sintetiza parte dos temas que serão incorporados ao longo do trabalho, como a relação de Lewis com o próprio amadurecimento e a constante busca por libertação pessoal. “Eu não tenho filhos / Eu não tenho raízes / Eu sou uma órfã / Apanha-me se puderes“, celebra minutos à frente, dentro da mesma canção.

É evidente que essa permanente leveza no processo de composição não interfere na criação de faixas marcadas pela melancolia dos temas. E isso fica bastante evidente no que talvez seja uma das canções mais delicadas do álbum, Essence of Life. Enquanto arranjos cuidadosamente trabalhados em estúdio se completam por um coro de vozes, Lewis desaba emocionalmente. “Quando eu ouvi você dizer / Que não está sentindo isso da mesma maneira / Reforçou o que eu já sabia“, canta. E ela está longe de ser a única música do gênero, vide o esforço da artista em transitar por diferentes temáticas no decorrer do registro.

Em Psychos, logo na abertura do disco, os versos funcionam como um chamado à aventura, preparando o ouvinte para o restante da obra (“É hora de eu fugir, fugir / Como posso, como posso ajudá-lo?“). Já em Apples and Oranges, minutos à frente, são reflexões sobre um antigo e um novo relacionamento que embalam a experiência do ouvinte (“Ele é quente e ele é legal / Ele simplesmente não é você“). Surgem ainda preciosidades como Giddy Up, em que mergulha fundo nos próprios sentimentos, como um aceno para os antigos trabalhos (“Quando estava sozinha / Eu só me machuquei / Baby, você pode sentir isso?“).

Embora Lewis tenha seus momentos de evidente brilho poético, a suavidade e o humor típico da artista podem, por vezes, diminuir a intensidade emocional das composições, criando um contraste que parece distrair o ouvinte da melancolia subjacente dos temas abordados. A própria similaridade com o repertório e arranjos incorporadas aos registros anteriores, como The Voyager (2014), é outro fator que diminui o impacto em relação ao trabalho. Um misto de conforto e previsibilidade, mas que em nenhum momento deixa de encantar, efeito do minucioso processo criação e produção que se reflete até os minutos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.