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Crítica

Jess Williamson

: "Time Ain’t Accidental"

Ano: 2023

Selo: Mexican Summer

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Angel Olsen e Jenny Lewis

Ouça: Hunter e Time Ain’t Accidental

8.0
8.0

Jess Williamson: “Time Ain’t Accidental”

Ano: 2023

Selo: Mexican Summer

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Angel Olsen e Jenny Lewis

Ouça: Hunter e Time Ain’t Accidental

/ Por: Cleber Facchi 12/07/2023

Enquanto Jess Williamson sorri, o céu parece prestes a desabar na fotografia que ilustra a imagem de capa de Time Ain’t Accidental (2023, Mexican Summer). É partindo justamente desse direcionamento conflitante que a cantora e compositora norte-americana abre passagem para o quinto e mais recente trabalho de estúdio da carreira. Um espaço conceitual em que sonhos e desilusões se misturam a todo instante, estrutura testada durante a apresentação do colaborativo I Walked With You a Ways (2022), parceria com Waxahatchee, no paralelo Plains, mas que alcança melhor resultado no presente disco.

Produzido em parceria com o experiente Brad Cook, artista que já colaborou com nomes como Bon Iver e Snail Mail, Time Ain’t Accidental diz a que veio logo nos minutos iniciais da autointitulada composição de abertura. “Conheci você por um tempo, mas você era o amor de outra pessoa / Quando a chuva começou, nós demos uma volta, eu tinha um carro alugado / Rasgado com o tempo, mas o tempo não é acidental“, canta Williamson, destacando a temática dos encontros e desencontros que abastece o disco. Um misto de dor e libertação, dualidade que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais do trabalho.

Claro que esse lirismo contrastante e maior fluidez no processo de escrita não impede que Williamson mergulhe na construção de composições marcadas por temas específicos, em sua maioria, voltados aos conflitos sentimentais vividos pela artista. “Eu senti falta do meu homem? / Ele também sentiu minha falta? / Ele acabou de passar por mim quando eu estava perdendo meu tempo esperando por você?“, questiona na dolorosa Tobacco Two Step, música que potencializa a relação com o cancioneiro norte-americano de I Walked With You a Ways, porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível, dolorosa e intimista.

De fato, poucas vezes antes Williamson pareceu tão honesta em suas criações. É como se do diálogo gerado com Katie Crutchfield, no último ano, a cantora encontrasse um estímulo para desenvolver as próprias emoções de forma ainda mais aproximada do ouvinte. “Eu dormiria no chão até você dar um tapinha na cama / Eu viria ao seu chamado“, confessa em I’d Come to Your Call, próxima ao fechamento do disco. São fragmentos poéticos que se projetam em um claro exercício de vulnerabilidade emocional, como uma soma das angústias, traumas e relacionamentos conturbados que a artista vivenciou ao longo dos anos.

Muito embora consumido pelos tormentos de Williamson, Time Ain’t Accidental, como indicado durante toda a execução do material, equilibra esses momentos de maior fragilidade com arranjos e estruturas que se distanciam de uma atmosfera soturna. E isso fica bem representado em Hunter. Enquanto os versos se dividem entre traumas de um passado recente e pequenas reflexões pessoais, batidas, pianos e vozes dobradas transportam a canção para um novo território, direcionamento também explorado em Topanga Two Step, composição adornada pelos metais e inusitado diálogo da artista com a produção eletrônica.

São essas mesmas pinceladas instrumentais e diálogos ocasionais com diferentes conceitos criativos que engrandecem o trabalho de Williamson. Mesmo que parte expressiva do material siga de onde a cantora parou há três anos, durante o lançamento de Sorceress (2020), o uso de pequenas variações estruturais distanciam a artista de um resultado possivelmente previsível. É como se, pela primeira vez, a artista tivesse total conhecimento e domínio sobre a própria criação, culminando na entrega de uma obra que encanta o ouvinte tanto pela riqueza dos versos como pelo minucioso acabamento dado aos arranjos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.