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Crítica

Jessy Lanza

: "Love Hallucination"

Ano: 2023

Selo: Hyperdub

Gênero: Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: Kelela e Yaeji

Ouça: Midnight Ontario e Don't Leave Me Now

8.1
8.1

Jessy Lanza: “Love Hallucination”

Ano: 2023

Selo: Hyperdub

Gênero: Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: Kelela e Yaeji

Ouça: Midnight Ontario e Don't Leave Me Now

/ Por: Cleber Facchi 09/08/2023

Love Hallucination (2023, Hyperdub) é um verdadeiro sopro de frescor dentro da obra de Jessy Lanza. Mesmo que estruturalmente arquitetado em uma combinação de batidas eletrônicas e sintetizadores cuidadosamente encaixados, conceito que tem sido explorado desde o introdutório Pull My Hair Back (2013), o sucessor do pandêmico All The Time (2020) evidencia o esforço da produtora em buscar por novas temáticas e direções criativas. É como uma representação poética das transformações vividas pela artista desde que deixou a cidade de Hamilton, no Canadá, e mudou-se para Los Angeles, na Califórnia.

Não por acaso, grande parte das composições reforçam a sensação de movimento, passeiam em meio a paisagens descritivas e rompem com a inércia do registro anterior de forma a transportar o ouvinte para um mundo de novas descobertas e relações românticas. “Sim, vou longe demais / Eu cruzo a linha / Eu empurro um pouco mais / Chegando, rindo nos meus lábios“, confessa em Casino Niagra, música em que sintetiza parte dessas experiências de forma bastante sensível, como a passagem para um território particular da produtora, sempre intimista, mas que a todo momento busca estreitar laços com o ouvinte.

Exemplo disso fica bastante evidente nos momentos de maior vulnerabilidade e entrega sentimental que surgem durante toda a execução de Love Hallucination. “Eu me odeio / Eu me odeio“, repete em I Hate Myself, composição que desacelera consideravelmente em relação ao restante do material, porém, expõe uma fragilidade poucas vezes entes vista dentro da obra da artista. Entretanto, longe de parecer uma vítima das circunstâncias e emoções, direcionamento que tem sido aprimorado desde o também melancólico Oh No (2016), Lanza, pela primeira vez, parece assumir o controle das próprias experiências românticas.

Quando eu precisava de você / Você me deixou para trás / Então não chore no meu travesseiro“, canta em Don’t Cry On My Pillow, música que representa de forma bastante eficiente a mudança de direção adotada por Lanza em Love Hallucination. E ela está longe de parecer a única. Do momento em que tem início, em Don’t Leave Me Now, até alcançar a derradeira Double Time, poucas vezes antes a artista pareceu tão segura e consciente das próprias decisões. “Isso não vai mudar / Ainda assim, eu quero você / Em dobro“, declara na já citada faixa de encerramento do trabalho, reforçando esse mesmo direcionamento poético.

Enquanto os versos evidenciam a mudança de direção adotada pela artista, em se tratando das batidas e temas instrumentais, Lanza se permite ampliar o próprio campo de atuação. Segunda música do disco, Midnight Ontario funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de três minutos em que a produtora deixa de lado o R&B reducionista dos primeiros registros para investir em uma composição que parece pronta para as pistas, lembrando as criações de nomes como Jamie XX e Floating Points. Mesmo quando se entrega ao pop, como na pegajosa Limbo, há sempre um senso de renovação.

Conceitualmente próximo e ao mesmo tempo distante de tudo aquilo que define as criações da artista canadense, Love Hallucination encanta pela capacidade de Lanza em seduzir mesmo fazendo uso de uma série de elementos há muito incorporados por ela própria. São canções que continuam a orbitar um universo criativo bastante característico e talvez previsível do ponto de vista temático, porém, pontuadas por pequenas reviravoltas e mudanças sutis de direção que não apenas tingem com parcial ineditismo a experiência de velhos ouvintes, como parecem aproximar a produtora de uma nova parcela do público.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.