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Crítica

Jlin

: "Akoma"

Ano: 2024

Selo: Planet Mu

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: RP Boo e Loraine James

Ouça: The Precision of Infinity e Summon

8.0
8.0

Jlin: “Akoma”

Ano: 2024

Selo: Planet Mu

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: RP Boo e Loraine James

Ouça: The Precision of Infinity e Summon

/ Por: Cleber Facchi 25/04/2024

Muito embora parta de uma abordagem bastante característica, cada novo trabalho de estúdio de Jlin abre passagem para um novo território criativo. Com Akoma (2024, Planet Mu), terceiro e mais recente disco de inéditas da produtora norte-americana, não seria diferente. Sequência ao material apresentado em Black Origami (2017), o registro de onze composições segue de onde a artista parou há cinco anos, porém, utiliza de uma série de outros elementos que tensionam a experiência do ouvinte e ampliam os domínios da obra.

Terceira faixa do trabalho, Summon talvez seja o exemplo mais representativo disso. Em um intervalo de quatro minutos, Jlin deixa de lado o uso de formatações sintéticas para destacar a construção das batidas e componentes percussivos de forma orgânica. É como se a artista partisse de uma proposta ritualística, mas que aos poucos se perde em uma insana sobreposição de elementos, quebras e ruídos que rompem com a lógica de um registro tradicional, resultando em um espaço permanentemente aberto às possibilidades.

Assim como tem explorado desde o introdutório Dark Enery (2015), Jlin parece continuamente interessada em perverter os clássicos para a formação de algo novo e que parece pertencer somente à ela. Composição de encerramento do trabalho, The Precision of Infinity evidencia isso com excelência. Acompanhada pelo compositor e pianista Philip Glass, a produtora mais uma vez brinca com a fragmentação dos elementos, ritmos e formas de maneira a converter algo previsível em um resultado completamente torto e inventivo.

A própria decisão de não utilizar da voz de Björk com clareza em Borealis, música de abertura do disco, evidencia o caráter provocador de Jlin. São composições que a todo momento confessam referências, detalhando as bases e principais fontes de inspiração da produtora, porém, sempre interpretadas sob uma lógica distorcida, própria da norte-americana. Nem os arranjos de cordas do Krons Quartet, em Sodalite, permanecem os mesmos, sendo deliciosamente retrabalhados e corrompidos a cada mínimo movimento.

Embora marcado pela constante fragmentação dos elementos, Akoma vez ou outra esbarra na formação de faixas menos complexas e estranhamente acessíveis, evidenciando uma nova abordagem da produtora. É o caso de Iris, música que posiciona os sintetizadores em primeiro plano, como uma reinterpretação de tudo aquilo que a artista havia testado durante o lançamento de Dark Energy. Já outras, como a intensa Open Canvas, parecem pensadas para as pistas, como uma interpretação das performances ao vivo de Jlin.

Independente da direção percorrida pela artista em estúdio, há sempre um esforço de Jlin em provocar o ouvinte por meio das sensações e uso de estruturas que pervertem formas tradicionais, como o uso dos tambores em Challenge (To Be Continued II) e Eye Am. Composições que seguem uma lógica própria, por vezes íntimas de conceitos anteriormente testados pela produtora em outros registros autorais, vide o ainda recente Perspective EP (2023), mas que encontram sempre um ponto de ruptura e transformação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.