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Crítica

Joanna Sternberg

: "I’ve Got Me"

Ano: 2023

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie, Folk, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Lomelda e Daniel Johnston

Ouça: I’ve Got Me e Mountains High

8.3
8.3

Joanna Sternberg: “I’ve Got Me”

Ano: 2023

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie, Folk, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Lomelda e Daniel Johnston

Ouça: I’ve Got Me e Mountains High

/ Por: Cleber Facchi 07/07/2023

Multi-instrumentista autodidata e hoje graduada pela Escola de Jazz e Música Contemporânea de Nova Iorque, Joanna Sternberg é o típico caso de uma artista com amplo domínio técnico, mas que encontrou no reducionismo de um violão e uso de parcos pianos o estímulo para a própria obra. Depois de uma estreia tímida com Then I Try Some More (2019), a cantora e compositora norte-americana reaparece agora com I’ve Got Me (2023, Faz Possum), trabalho em que segue exatamente de onde parou há quatro anos, porém, de forma melhor estruturada e liricamente capaz de dialogar com uma parcela ainda maior de ouvintes.

Eu tenho a mim pela manhã / Eu tenho a mim à noite / Eu vou deixar que você seja / Porque eu tenho a mim“, canta logo nos minutos iniciais, na própria faixa-título. Mais do que um exercício de apresentação e síntese poética de tudo aquilo que será incorporado no decorrer do trabalho, a faixa de apenas dois minutos evidencia o que parece único da obra de Sternberg: a atmosfera. São canções que, mesmo captadas com maior polidez e contando com a produção do veterano Matt Sweeney (Adele, Jake Bug), parecem replicar a ambientação caseira típica das criações de Daniel Johnston e outros nomes do gênero.

É como a passagem para um universo particular de Sternberg, direcionamento que vai da imagem de capa, com uma colorida ilustração assinada pela própria artista, ao uso econômico dos arranjos que posicionam os vocais sempre em primeiro plano. Dessa forma, a cantora parece cada vez mais íntima do ouvinte, como se sussurrasse segredos, traumas e momentos de maior vulnerabilidade emocional. De fato, cada nova composição revelada ao longo do disco parece se aprofundar em um conceito ou tema em específico, detalhando diferentes personagens e sentimentos em uma abordagem tão dolorosa quanto libertadora.

Em I’ll Make You Mine, com seus arranjos acústicos e pianos complementares, é a busca por um amor impossível que orienta a construção da letra (“Vou te fazer minha / Embora leve tempo / Tempo que eu perdi“). Já People Are Toys To You, logo nos minutos iniciais, chama a atenção a clareza dos versos que rompem com a mesma dependência emocional (“Agora eu vejo que tudo estava errado / As pessoas são brinquedos para você / E você vai brincar e brincar até ficar entediado“). São composições que partem de experiências contrastantes, mas que a todo momento regressam a um território próprio de Sternberg.

Embora transite por diferentes questões pessoais e versos sempre consumidos pela força das emoções, I’ve Got Me é um trabalho que invariavelmente corre o risco de parecer monotemático. Como indicado logo nos minutos iniciais, tudo gira em torno da vida sentimental de Sternberg, proposta que pouco evolui quando voltamos os ouvidos para o material entregue em Then I Try Some More. A diferença talvez esteja na forma como a artista utiliza de uma abordagem cada vez mais expositiva, crua e honesta, fazendo com que mesmo experiências tão particulares sejam encaradas de forma bastante aproximada e íntima do ouvinte.

Outro aspecto que contribui para o fortalecimento do trabalho diz respeito ao esforço de Sternberg em utilizar de novos instrumentos e diferentes camadas instrumentais em pontos estratégicos do material. Ainda que o violão solitário sirva de base para os tormentos sentimentais que embalam a construção dos versos, arranjos de cordas, batidas e guitarras pouco a pouco ampliam os domínios da obra, como um exercício em construção, ainda incerto, porém, sempre minucioso, indicativo do evidente processo de amadurecimento que aponta direções e pavimenta o caminho para os futuros inventos da nova-iorquina.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.