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Crítica

João Donato

: "Serotonina"

Ano: 2022

Selo: Sete Mares

Gênero: Jazz, MPB, Bossa Nova

Para quem gosta de: Marcos Valle e Joyce Moreno

Ouça: Floriu, Órbita e Doce de Amora

7.5
7.5

João Donato: “Serotonina”

Ano: 2022

Selo: Sete Mares

Gênero: Jazz, MPB, Bossa Nova

Para quem gosta de: Marcos Valle e Joyce Moreno

Ouça: Floriu, Órbita e Doce de Amora

/ Por: Cleber Facchi 23/08/2022

O sorriso brota quase que instantaneamente tão logo Simbora tem início. Composição de abertura de Serotonina (2022, Sete Mares), primeiro álbum de inéditas de João Donato em mais de duas décadas, a parceria com a pernambucana Anastácia, a “Rainha do Forró”, não apenas aponta a direção seguida pelo músico de 88 anos, como parece pensada para envolver e confortar o ouvinte, transportado para dentro do trabalho. “Quero ter o seu abraço / Mas também eu quero o seu amor / E vamos fugir pra longe / Do sinal triste da dor“, detalha a letra doce e escapista, como uma fuga da realidade sombria em que vivemos.

Tendo a música como um componente de cura, o pianista acreano convida o ouvinte a se perder em um território marcado pela forte sensação de acolhimento. São canções que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. “Beber champanhe / Comer bombom / Brindar tim-tim / Tocar tom-tom / Ficar à toa / Fundo de quintal“, canta em Azul Royal, composição que conta com letra de Maurício Pereira e funciona como uma síntese clara de tudo aquilo que Donato busca desenvolver ao longo da obra. Um lento desvendar de informações, melodias e vozes embaladas por versos descritivos e detalhistas.

É como um acumulo natural de tudo aquilo que o músico tem incorporado em mais de sete décadas de carreira, estrutura que esbarra em fórmulas há muito exploradas pelo artista, mas que invariavelmente capturam a atenção do ouvinte. Exemplo disso acontece em Eu Gosto de Você, música que vai da bossa nova ao uso de ritmos afro-cubanos em uma abordagem deliciosamente acalentada, direcionamento que destaca a sobreposição dos metais e versos assinados em parceria com Felipe Cordeiro. Composições que encolhem e crescem a todo instante, fazendo de cada mínimo fragmento criativo um objeto de destaque.

Esse mesmo esmero no processo de composição fica bastante evidente logo nos minutos iniciais do disco, em Doce de Amora. Do uso calculado da percussão, sempre detalhista, passando pelo piano elétrico, a linha de baixo suculenta e o complementar coro de vozes, cada elemento da canção parece pensado de forma a potencializar os versos e voz já debilitada de Donato. É como um minucioso processo de criação, estrutura que evoca de forma bastante natural alguns dos principais registros do músico, como A Bad Donato (1970) e Quem É Quem (1973), porém, partindo de uma abordagem atualizada, leve e sorridente.

Dentro desse ambiente marcado pela atmosfera receptiva e sutileza dos arranjos, Donato aproveita para estreitar a relação com diferentes colaboradores. Além dos já citados Maurício Pereira e Felipe Cordeiro, outro que aparece para assumir a construção dos versos é o músico Rodrigo Amarante, parceiro em Estrela do Mar, composição que parece saída dos antigos trabalhos da Orquestra Imperial. Mais à frente, em Floriu, é a vez de Céu, artista que não apenas divide a letra da canção, como assume os vocais de forma bastante sensível, entrecortando a base adornada pela fluidez dos pianos e percussão repleta de camadas.

Sequência ao material entregue há poucos meses, em Síntese do Lance (2021), colaboração com Jards Macalé, Serotonina mostra João Donato em sua melhor forma. Enquanto a base instrumental reflete o minucioso processo de composição do artista, versos marcados pela leveza dos temas, personagens e sentimentos transportam o ouvinte para um mundo mágico. O próprio título da obra, inspirado pelo neurotransmissor que estimula a sensação de bem-estar, funciona como uma boa representação desse resultado. Canções que se distanciam de possíveis excessos de forma a seduzir e convencer pelo conforto.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.