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Crítica

Jockstrap

: "I Love You Jennifer B"

Ano: 2022

Selo: Rough Trade

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Black Midi e Sorry

Ouça: Concrete Over Water e 50/50

8.3
8.3

Jockstrap: “I Love You Jennifer B”

Ano: 2022

Selo: Rough Trade

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Black Midi e Sorry

Ouça: Concrete Over Water e 50/50

/ Por: Cleber Facchi 14/09/2022

I Love You Jennifer B (2022, Rough Trade) é um trabalho completamente estranho. E isso está longe de parecer um problema. Aguardada estreia da dupla britânica Jockstrap, o registro concebido em um intervalo de quase três anos nasce como uma combinação das ideias, delírios e pequenas inquietações compartilhadas entre a cantora e compositora Georgia Ellery e o multi-instrumentista e produtor Taylor Skye. São canções que começam pequenas, assumem formas pouco usuais e não apenas tencionam a experiência do ouvinte, como tingem com incerteza o desenvolvimento da obra durante toda sua execução.

Claro que isso está longe de parecer uma surpresa para quem há tempos acompanha o trabalho da dupla inglesa. Desde os primeiros registros autorais, no fim da década passada, Ellery e Skye tem investido na formação de um repertório que parte de uma abordagem íntima da música pop tradicional, porém, de maneira essencialmente fragmentada, torta. É como se os dois artistas, mesmo dotados de evidente domínio técnico, seguissem por um caminho nada convencional, proposta que faz de I Love You Jennifer B um campo aberto às possibilidades, busca por novas direções criativas e momentos de maior experimentação.

Uma das primeiras criações do disco a serem apresentadas ao público, Concrete Over Water funciona como uma clara representação de tudo aquilo que Ellery e Skye buscam desenvolver ao longo da obra. Enquanto os versos se aprofundam em questões sentimentais de forma bastante sensível (“Estou feliz que você me aceite como eu sou / Qualquer forma com mulher, homem / Preto ou azul, eu sou uma trapaceira imundo“), musicalmente a dupla testa os próprios limites dentro de estúdio. São momentos de calmaria e caos, estrutura que vai de pianos minimalistas ao uso de pequenos diálogos com a produção eletrônica.

Esse mesmo atravessamento de informações acaba se refletindo durante toda a execução do trabalho. Música de encerramento do disco, 50/50 é um bom exemplo disso. Originalmente revelada ao público em novembro do último ano, a faixa reaparece agora em novo e delirante formato. São pouco mais de cinco minutos em os dois artistas brincam com a desconstrução das vozes, quebras instrumentais e batidas eletrônicas. A própria composição de abertura do álbum, Neon, parte de uma abordagem econômica, porém, lentamente se permite corromper pelo que há de mais caótico no som produzido pelo Jockstrap.

Embora pontuado pela construção de faixas totalmente imprevisíveis, I Love You Jennifer B encanta pelo equilíbrio da dupla e uso de pequenos respiros criativos durante toda a execução do trabalho. É o caso de Greatest Hits, música que parte de uma base nostálgica, íntima do pop dos anos 1980, mas que em nenhum momento deixa de parecer atual, fresca. Mesmo quando tende aos momentos de maior transgressão, como em Debra e na já conhecida Glasgow, prevalece a capacidade dos dois artistas em utilizar de elementos da música pop de forma pouco usual, lembrando as criações de Jai Paul e outros nomes da cena inglesa.

Grandioso e compacto na mesma proporção, I Love You Jennifer B se revela ao público como uma obra marcada em essência pelas possibilidades. Enquanto parte expressiva do repertório se sustenta na criações de faixas geradas de forma caseira, em estúdios improvisados, outras composições encantam pelo refinamento dos arranjos e uso de temas orquestrais. É como se a dupla fosse de encontro ao mesmo território que vem sendo explorado por outros nomes da produção britânica, como Black Midi e Black Country, New Road, da qual Ellery faz parte, porém, utilizando de uma proposta totalmente particular.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.