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Crítica

Jovens Ateus

: "Jovens Ateus"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Inês É Morta e gorduratrans

Ouça: A Mais Triste, Motocross e Iglesia

7.8
7.8

Jovens Ateus: “Jovens Ateus”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Inês É Morta e gorduratrans

Ouça: A Mais Triste, Motocross e Iglesia

/ Por: Cleber Facchi 23/08/2023

Existe algo de muito único no tipo de som produzido pelos paranaenses da Jovens Ateus: a atmosfera. Do momento em que tem início, nos sintetizadores de Intro/Quo, composição escolhida para inaugurar o primeiro registro de inéditas do grupo que hoje conta com Guto Becchi (voz), João Manoel, (guitarras), Fernando Vallim (guitarras), Bruno Deffune (baixo) e Antônio Bresolin (bateria e sintetizadores), somos prontamente transportados para dentro do ambiente de emanações sombrias que o quinteto original de Maringá, região Norte do Paraná, busca desenvolver de forma quase opressiva até o fechamento da obra.

Entre vozes parcialmente submersas, batidas secas e camadas de guitarras que parecem extraídas de um quarto escuro, cada mínimo componente apresentado pela banda contribui para o som que tanto evoca veteranos da música gótica, como ajuda na construção da identidade do quinteto. Um misto de passado e presente, mas que pouco se assemelha a tantos outros interessados em revisitar a obra de veteranos como Sisters of Mercy, The Cure e Joy Division, sempre inclinados à limpidez e plasticidade dos elementos. Seja de maneira propositado ou não, é justamente essa ambientação empoeirada, por vezes inteligível em se tratando do uso dos vocais, que torna a experiência de ouvir o repertório de seis faixas tão fascinante.

Uma vez exposta a identidade soturna do quinteto nos minutos iniciais do trabalho, A Mais Triste, vinda logo em sequência, serve de reforço a esse direcionamento consumido pelas angústias e dores de seus realizadores. Enquanto os versos alternam entre paisagens descritivas, refletem sobre a inevitabilidade do fim e o desejo vampírico do eu lírico, guitarras labirínticas e sintetizadores atmosféricos deliciosamente ampliam os limites do som produzido pelo grupo. É como um convite a se perder em um espaço tão introspectivo quanto libertador. Uma beleza triste que se espalha por todas as brechas da composição.

Embora contemplativo, como um mergulho na mente dos próprios idealizadores, o registro estabelece momentos de doce euforia e possível diálogo com uma parcela ainda maior do público. Exemplo disso fica bastante evidente em Motocross. Movida pela explícita aceleração das batidas e guitarras, a faixa contrasta a fluidez dos arranjos com a melancolia dos versos. “Minha presença indesejada / Talvez seja culpa minha“, reflete a voz cavernosa que invade a canção. Esse mesmo tratamento acaba se refletindo na composição seguinte, Bloodflowers, música que reflete o lado mais acessível, mas não menos interessante da banda.

Passado esse momento de evidente libertação poética e instrumental, Quien Eres, quinta faixa do disco, traz o material de volta ao mesmo ambiente soturno que marca os minutos iniciais do trabalho. Se por um lado a estrutura pouco acrescenta quando voltamos os ouvidos para as criações que a antecedem, resultando em uma repetição bastante característica em registros do gênero, a escolha pelos versos cantados em espanhol transporta o quinteto paranaense para um novo território criativo. É como uma curva breve que ainda serve de aquecimento para a inusitada música de encerramento escolhida pela banda, Iglesia.

Apesar da adaptação no título, trata-se de uma releitura de Igreja, composição lançada pelos Titãs como parte do cultuado Cabeça Dinossauro (1986), mas que parece perfeitamente adaptada ao contexto da banda. Enquanto a bateria eletrônica imprime um sentimento de urgência, a suculenta linha de baixo serve de base para a canção que se revela aos poucos, explodindo quando próxima dos minutos finais. Um insano atravessamento de informações que mais uma vez confessa algumas das principais referências da Jovens Ateus, porém, preservando a identidade criativa e característica assinatura do quinteto paranaense.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.