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Crítica

Juçara Marçal

: "Encarnado"

Ano: 2014

Selo: Independente

Gênero: Experimental, Rock, MPB

Para quem gosta de: Metá Metá e Rodrigo Campos

Ouça: Ciranda do Aborto e Não Tenha Ódio No Verão

9.5
9.5

Juçara Marçal: “Encarnado”

Ano: 2014

Selo: Independente

Gênero: Experimental, Rock, MPB

Para quem gosta de: Metá Metá e Rodrigo Campos

Ouça: Ciranda do Aborto e Não Tenha Ódio No Verão

/ Por: Cleber Facchi 14/02/2020

A morte ronda as canções de Encarnado (2014). Primeiro álbum de Juçara Marçal em carreira solo, o trabalho que conta com produção assinada por Kiko Dinucci, parceiro de banda no Metá Metá, e a interferência direta do violonista Rodrigo Campos, encontra na efemeridade da vida e na finitude da existência humana a base para cada uma das canções que orientam a experiência do ouvinte até a derradeira João Carranca. São poemas angustiados, personagens urbanos e instantes de evidente entrega sentimental, postura reforçada em músicas como a introdutória Velho Amarelo (“Quero morrer num dia breve / Quero morrer num dia azul / Quero morrer na América do Sul“) e a delirante Não Tenha Ódio No Verão (“O ódio pega como planta que se rega / Mas no peito que navega / A pessoa fica cega / Cabeça oca“).

Nada que se compare ao turbilhão emocional e força das guitarras em Ciranda do Aborto, principal faixa do disco. São pouco menos de seis minutos em que a voz de Marçal encolhe e cresce forma atormentada, torta, sempre regida pelos ruídos e texturas metálicas de Dinucci. “A ferida se abriu / Nunca mais estancou / Pra você se espalhar / Laceado“, canta enquanto o ouvinte é convidado a se perder em um labirinto de sensações conflitantes. São formas abstratas e vozes tratadas como instrumentos, estrutura que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como em E o Quico?, música composta por Itamar Assumpção no começo dos anos 1980, e A Velha da Capa Preta, do pernambucano Siba. Melodias sujas e retalhos poéticos que sutilmente ampliam tudo aquilo que a artista fluminense vinha experimentado desde o início da carreira.



Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.