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Crítica

Jungle

: "Volcano"

Ano: 2023

Selo: AWAL

Gênero: Funk, Soul, Eletrônica

Para quem gosta de: Disclosure e Sault

Ouça: Candle Flame e Back On 74

6.5
6.5

Jungle: “Volcano”

Ano: 2023

Selo: AWAL

Gênero: Funk, Soul, Eletrônica

Para quem gosta de: Disclosure e Sault

Ouça: Candle Flame e Back On 74

/ Por: Cleber Facchi 28/08/2023

Sejamos honestos: quem já ouviu um disco do Jungle, ouviu todos. Mesmo partindo de uma abordagem bastante característica, talvez formulaica, os produtores Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland buscam ampliar os limites da própria obra com o lançamento de Volcano (2023, AWAL). Quarto e mais recente trabalho de estúdio da dupla inglesa, o registro segue de onde o duo parou há pouco mais de dois anos, em Loving In Stereo (2021), porém, estabelece no criativo diálogo com diferentes colaboradores um precioso componente de renovação, direcionamento que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais.

Música escolhida para anunciar a chegada do disco, em março deste ano, Candle Flame funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto a base da composição continua a vagar pelo funk da década de 1970, destacando harmonias de vozes e uma linha de baixo sempre em primeiro plano, rimas disparadas pelo convidado, o rapper norte-americano Erick the Architect, transportam o som produzido pelo Jungle para um novo território criativo. Pouco menos de três minutos em passado e presente se encontram em deliciosa combinação de ritmos, melodias e vocais cuidadosamente trabalhados em estúdio.

Essa mesma estrutura volta a se repetir em outros momentos ao longo do registro. Em I’ve Been In Love, por exemplo, é o produtor/rapper Channel Tres quem rouba a cena, atravessando a combinação de soul e reggae proposta pela dupla inglesa em um misto de canto e rima. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante e atualizada em You Ain’t No Celebrity. Completa pela presença de Roots Manuva, a composição se destaca pela forma como o Jungle perverte a própria essência em uma delirante sobreposição de elementos que faz parecer um encontro entre The Chemical Brothers e Sault.

Entretanto, para além da soma de colaboradores que surgem e desaparecem durante toda a execução do trabalho, o grande charme de Volcano acaba ficando por conta da interferência direta e vozes macias de Lydia Kitto. Parceira desde o disco anterior, a artista inglesa ocupa uma posição de maior destaque ao longo do registro, assumindo, inclusive, parte dos instrumentos. O resultado desse processo está na entrega de preciosidades como Back On 74, composição que encanta pela riqueza dos elementos e uso sempre sofisticado das vozes, como uma canção que parece ter atravessado diferentes décadas até ser finalizada.

Mesmo com todos esses elementos em mãos, encontros pontuais com novos parceiros em estúdio e maior contribuição de Kitto, Volcano, assim como o álbum que o antecede, é um trabalho livre de possíveis surpresas. Uma vez apontada a direção seguida pelo Jungle no autointitulado registro de estreia, lançado em 2014, tudo parece seguir uma mesma proposta criativa. Salve exceções, como a dançante Don’t Play, em que fica bastante evidente a relação da dupla com a música eletrônica, e a já citada You Ain’t No Celebrity, que partilha do mesmo enquadramento, não há nada aqui que já não tenhamos escutado anteriormente.

Não por acaso, ao avançarmos em direção à segunda metade do trabalho, Volcano começa a perder suas forças. São canções como Coming Back e Palm Trees que mais parecem releituras do material entregue nos minutos iniciais. A própria escolha em resgatar Problemz, lançada ainda no último ano, funciona como uma boa representação desse resultado. É como se fosse possível prever cada novo movimento da dupla, o que não exclui algumas surpresas, como a ritualística Every Night, faixa que mira o continente africano, tende ao novo, porém, é logo sufocada pelas velhas estruturas que há tempos embalam as criações do Jungle.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.