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Crítica

Junior Boys

: "Waiting Game"

Ano: 2022

Selo: City Slang

Gênero: Eletrônica, Ambient Pop

Para quem gosta de: Caribou e Jessy Lanza

Ouça: Night Walk e Dum Audio

7.5
7.5

Junior Boys: “Waiting Game”

Ano: 2022

Selo: City Slang

Gênero: Eletrônica, Ambient Pop

Para quem gosta de: Caribou e Jessy Lanza

Ouça: Night Walk e Dum Audio

/ Por: Cleber Facchi 09/11/2022

Desde o início da carreira, Matt Didemus e Jeremy Greenspan utilizaram de uma abordagem equilibrada nos trabalhos do Junior Boys. Enquanto parte das composições, como In The Morning e Over It, pareciam conduzir o ouvinte em direção às pistas, outras, como a labiríntica Parallel Lines e So This Is Goodbye, detalhavam momentos de maior contemplação e vulnerabilidade. Sexto e mais recente álbum de estúdio produzido pela dupla original de Hamilton, no Canadá, Waiting Game (2022, City Slang) não apenas destaca o caráter reducionista e busca dos dois produtores por um repertório totalmente atmosférico, como rompe criativamente com tudo aquilo que vem sendo testado desde a estreia com Last Exit (2004).

Escolhida como composição de abertura do disco, Must Be All the Wrong Things funciona como uma boa representação do tipo de som que Didemus e Greenspan buscam desenvolver ao longo da obra. São pouco mais de cinco minutos em que cada mínimo fragmento da canção se revela ao público em uma medida própria de tempo. Do uso calculado dos sintetizadores, passando pela economia dos vocais, tudo parece pensado para envolver e ambientar o ouvinte ao universo do trabalho. Um lento, porém, permanente desvendar de informações, como uma fuga da urgência explícita no antecessor Big Black Coat (2016).

Esse mesmo direcionamento fica ainda mais evidente na composição seguinte, Night Walk. Mesmo que os sintetizadores empregados na abertura da faixa indiquem uma maior aproximação com as pistas, a sutileza das batidas e melancolia expressa nos versos reforçam o caráter atmosférico dado ao trabalho. “Como eu deveria me sentir?“, questiona a letra da canção, sempre intimista. É como um delicado exercício criativo, estrutura que assume uma abordagem deliciosamente fragmentada na música seguinte, It Never Occurred to Me, reforçando a capacidade da dupla em testar limites mesmo de forma reducionista.

Com a chegada de Thinking About You Calms Me Down, a dupla canadense acelera de maneira sutil, vai de encontro aos antigos trabalhos, porém, em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite pré-estabelecido. O mesmo acontece na canção seguinte, Yes II, faixa que destaca o uso das vozes e ainda flerta com o pop dos anos 1980, como uma extensão do material entregue em Big Black Coat. Nada que pareça prejudicar a capacidade dos dois artistas em mergulhar na construção de faixas puramente atmosféricas. É o caso de Dum Audio, música que chama a atenção pelo uso de pequenos acréscimos e vozes robóticas.

Pena que nem todas as composições ao longo do disco utilizam desse direcionamento econômico de forma tão interessante. Em Fidget, por exemplo, prevalece a sensação de um material incompleto, como um esboço frio e desinteressante. Felizmente, a canção é sucedida por uma das melhores músicas do trabalho, Samba on Sama. Inaugurada em meio a instrumentos de sopro e sintetizadores discretos, a faixa encanta pela forma como novos elementos são incorporados pela dupla. São entalhes eletrônicos, guitarras e vozes que delicadamente conduzem a experiência do ouvinte, como um minucioso acumulo do informações.

Partindo dessa abordagem sutil, Didemus e Greenspan abrem passagem para o fechamento do material com a própria faixa-título do disco. Revelada ao público anteriormente, a canção ganha novo significado quando observada como parte importante do álbum. É como um resumo do repertório entregue pelos dois artistas ao longo do trabalho. São fragmentos de vozes que se espalham em uma cama de sintetizadores, batidas e sopros. Instantes em que a dupla canadense rompe com os temas dançantes detalhados nos últimos registros, porém, preservando o refinamento estético e evidente esmero no processo de criação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.