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Crítica

Justin Timberlake

: "Everything I Thought It Was"

Ano: 2024

Selo: RCA

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Usher e *NSYNC

Ouça: Technicolor e Selfish

4.5
4.5

Justin Timberlake: “Everything I Thought It Was”

Ano: 2024

Selo: RCA

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Usher e *NSYNC

Ouça: Technicolor e Selfish

/ Por: Cleber Facchi 20/03/2024

Ainda que poeticamente atrelada ao título do trabalho, a capa de Everything I Thought It Was (2024, RCA), mais recente álbum de Justin Timberlake, funciona como uma boa representação do atual momento na carreira do artista norte-americano. Com a imagem desgastada, o músico busca seguir em frente, tentando deixar para trás as acusações de misoginia do público e imprensa após o documentário Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela (2021), centrado nas experiências de Britney Spears, com quem namorou, além de debates sobre o episódio onde expôs o seio de Janet Jackson no show do intervalo do Super Bowl.

Entretanto, para além de esconder o rosto e dar tempo à própria imagem em carreira solo, o que resultou em um estratégico retorno do NSYNC nos últimos meses, Timberlake parece ter esquecido que, para se restabelecer de fato, o essencial seria entregar um bom disco. Não é o caso de Everything I Thought It Was. Passado o show de coitadismo que marca a introdutória Memphis, em que até tenta se desculpar pelos erros cometidos no passado (“Eu perdi minha voz como um pastor, mais rápido que uma dança do Harlem / Mas acho que é isso que você ganha por tentar tornar o coração partido bonito“), o que se percebe é o esforço desesperado do artista em emular seus antigos trabalhos como forma de reconquistar o público.

Em Fuckin’ Up the Disco, por exemplo, Timberlake traz de volta a mesma atmosfera dançante de Can’t Stop the Feeling, canção que o levou ao topo das paradas de sucesso nos Estados Unidos, porém, substituindo a letra familiar feita para o filme Trolls (2016) por uma composição de forte cunho sexual. É como se o artista o tempo todo buscasse se provar de alguma forma para o ouvinte, criando situações em que se conecta aos primeiros trabalhos de estúdio, porém, partindo de uma abordagem claramente exagerada e encenada.

A verdade é que passamos as últimas duas décadas achando normal ver um artista branco emular um homem negro em cima dos palcos e usurpar da estética preta para promover o próprio trabalho. Não cola mais. É quase caricatural em alguns pontos da obra e Timberlake parece ser o único que não se deu conta disso. A própria tentativa em incluir Fireboy DML, nome em ascensão na cena nigeriana, e o texano Tobe Nwigwe, conhecido pela forte relação com a comunidade negra, em composições menos expressivas do disco, soa de forma bastante questionável. É como se ele dissesse: “Olha só, eu até tenho amigos negros“.

Mesmo ignorando todas as questões de gênero e raça que envolvem a obra de Timberlake nas últimas décadas, Everything I Thought It Was permanece como um álbum tecnicamente desconjuntado, soando como uma colcha de retalhos que não leva o ouvinte a lugar algum. São canções exageradamente extensas ou que parecem versões baratas daquilo que o artista havia testado em registros como Justified (2002) e FutureSex/LoveSounds (2006), vide Infinity Sex e a brega My Favorite Drug. A própria tentativa de forjar um reencontro do NSYNC em Paradise, próxima ao encerramento do disco, escancara o desespero do cantor em mais uma vez capturar a atenção do público de forma vulgar, por meio da nostalgia barata.

Ainda assim, Everything I Thought It Was consegue ser melhor organizado do que o antecessor Man of the Woods (2018), trabalho que já indicava a completa falta de rumo e tentativa de Timberlake em repensar a própria identidade artística. Surgem até canções interessantes, como Selfish, escolhida para anunciar a chegada do disco, e Technicolor, um R&B marcado pelas camadas e que talvez brilhasse no repertório de The 20/20 Experience (2013), mas que parece se perder em uma obra que não dialoga em nada com o presente e que duvido muito se causaria uma reação diferente mesmo se fosse revelada em outras épocas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.