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Crítica

Kacey Musgraves

: "Star-Crossed"

Ano: 2021

Selo: MCA Nashville / Interscope

Gênero: Country Pop

Para quem gosta de: The Chicks e Miranda Lambert

Ouça: Justified e Camera Roll

7.5
7.5

Kacey Musgraves: “Star-Crossed”

Ano: 2021

Selo: MCA Nashville / Interscope

Gênero: Country Pop

Para quem gosta de: The Chicks e Miranda Lambert

Ouça: Justified e Camera Roll

/ Por: Cleber Facchi 20/09/2021

Há três anos, quando deu vida ao elogiado Golden Hour (2018), vencedor na categoria de álbum do ano no Grammy de 2019, Kacey Musgraves decidiu transportar para dentro de estúdio tudo aquilo que sentia ao lado de Ruston Kelly, com quem havia acabado de se casar. O resultado desse processo está na entrega de algumas das composições mais sensíveis e honestas já produzidas pela artista, vide a vulnerabilidade impressa nas letras de Butterflies e toda uma sequência de outras faixas consumidas pelos desejos mais ardentes da cantora. Mas o que acontece quando todos esses sentimentos sessam e o amor chega ao fim?

A resposta está nas canções de Star-Crossed (2021, MCA Nashville / Interscope). Quinto e mais recente trabalho de estúdio de Musgraves, o álbum de essência melancólica nasce como um complemento ao repertório entregue em Golden Hour. Entretanto, enquanto no disco anterior a artista texana transformava os próprios sentimentos em um importante componente de diálogo com o ouvinte, hoje estabelece no recente divórcio a base para um registro doloroso e libertador na mesma proporção. São canções que refletem a necessidade da compositora em seguir em frente, mesmo ainda presa ao próprio passado.

A ordem cronológica não é nada além de tortura / Role para trás, e é isso que você encontrará / Eu não quero vê-las, mas não posso apagá-las / Não parece certo ainda, ainda não“, canta em Camera Roll, música em que utiliza das imagens arquivadas no próprio celular como uma representação das memórias e recordações que viveu ao lado do ex-marido. É partindo justamente desse sentimento angustiado, do frio na barriga ao relembrar de Kelly, que a cantora orienta a formação do trabalho. Um misto de passado e presente que serve de passagem para a mente atormentada de Musgraves, sempre franca com o ouvinte.

E isso fica bastante evidente em Justified, composição em que lida de forma aberta com o desequilíbrio das emoções (“Se eu chorar um pouco e depois rir no meio“), discute o processo de cicatrização do próprio coração (“Movendo-se em frente, sentindo-se forte, mas / A cura não acontece em linha reta“) e canta sobre as incertezas que envolvem esse momento tão delicado (“O que eu deveria fazer?“). É como uma resposta ao material entregue em Happy & Sad, uma das principais faixas do disco anterior, em que explora essa mesma instabilidade sentimental, porém, partindo do descontrole relacionado a um novo amor.

O problema é que por se tratar de uma obra dotada de uma temática tão específica, conceito que vai da construção dos versos ao média-metragem que serve de complemento às canções, Star-Crossed invariavelmente soa como um registro monotemático e que pouco avança criativamente. Diferente do álbum anterior, onde músicas como a ecológica Oh, What a World e High Horse pareciam romper com a essência romântica do material, com o presente disco, Musgraves segue uma trilha pré-estabelecida desde que o registro foi anunciado. Dessa forma, é difícil não se sentir sufocado pelo repertório entregue na segunda metade do trabalho, quando temas bem resolvidos nos minutos iniciais voltam a se repetir.

O que salva o registro desses momentos de maior instabilidade é a capacidade de Musgraves em transitar por entre estilos de forma sempre detalhista e curiosa. Influenciada pela obra de artistas como Daft Punk, Sade, Eagles e Weezer, a cantora e seus parceiros de produção, Ian Fitchuk e Daniel Tashian, vão do trip-hop, em Easier Said, ao sophisti-pop, em There Is a Light, sem necessariamente romper com a essência country do disco. A própria faixa de encerramento, uma releitura de Gracias a la Vida, da chilena Violeta Parra, tinge o álbum com ineditismo, tornando a experiência de revisitar Star-Crossed sempre satisfatória.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.