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Crítica

Kaitlyn Aurelia Smith

: "The Mosaic of Transformation"

Ano: 2020

Selo: Ghostly International

Gênero: Eletrônica, Música Ambiente, Dream Pop

Para quem gosta de: Julianna Barwick, Colleen e Grouper

Ouça: Remembering e Expanding Electricity

7.5
7.5

Kaitlyn Aurelia Smith: “The Mosaic of Transformation”

Ano: 2020

Selo: Ghostly International

Gênero: Eletrônica, Música Ambiente, Dream Pop

Para quem gosta de: Julianna Barwick, Colleen e Grouper

Ouça: Remembering e Expanding Electricity

/ Por: Cleber Facchi 27/05/2020

Ouvir o trabalho de Kaitlyn Aurelia Smith é uma experiência sempre transformadora. Na contramão de outros nomes da música ambiente, em sua maioria inclinados ao uso de experimentações alongadas e faixas que se espalham por um longo intervalo de tempo, a cantora, compositora e produtora de Orcas Island, no noroeste dos Estados Unidos, segue por um caminho particular. São músicas essencialmente curtas, porém, detalhistas, como se incontáveis camadas instrumentais, melodias cósmicas e vozes fossem condensadas de maneira sutil dentro de cada novo registro autoral.

Com The Mosaic of Transformation (2020, Ghostly International), novo álbum de estúdio da musicista estadunidense, não poderia ser diferente. Do momento em que tem início, em Unbraiding Boundless Energy Within Boundaries, até alcançar a derradeira Expanding Electrity, todos os esforços da artista se concentram em garantir ao público uma experiência acolhedora, por vezes transcendental. São camadas de sintetizadores que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra, como um labirinto mágico que muda suas formas para atrair cada vez mais a atenção do ouvinte, convidado a se perder nesse território onde tudo se revela de maneira sutil, sem pressa.

Exemplo disso está em Carrying Gravity, quinta composição do disco. Concebida a partir de pequenas sobreposições melódicas, a canção parte de uma base conceitual que busca emular arranjos de cordas, cresce em meio a reverberações etéreas e sintetizadores cada vez mais cristalinos, como pequenos detalhes que ampliam a dimensão da faixa. É como se diferentes músicas fossem costuradas por Smith, como esboços atmosféricos que se acumulam desde o álbum anterior da artista, o sombrio The Kid (2017), trabalho em que parecia dialogar com a obra de Fever Ray e outros nomes importantes do gênero.

De fato, difícil não pensar nas canções de The Mosaic of Transformation como um contraponto ao material entregue no disco anterior. São delicadas paisagens instrumentais que se revelam ao público de forma sempre convidativa, como uma fuga do experimentalismo denso de músicas como An Intention e A Kid, sempre marcadas pelo uso destacado da voz. Com o presente álbum, todos os elementos são tratados de forma complementar, como fragmentos de uma imensa obra. Mesmo quando recorre ao uso de vocais, como em Remembering, Smith em nenhum momento corrompe a leveza do disco.

Parte desse resultado vem do esforço da musicista em alternar entre canções efêmeras e faixas robustas, sempre sofisticadas. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade logo na sequência de abertura do álbum, com Unbraiding Boundless Energy Within Boundaries, Remembering e Understanding Body Messages. São ondulações delicadas e sempre misteriosas. Altos e baixos que conduzem a experiência do ouvinte até a derradeira Expanding Electrity, composição mais extensa do disco e um minucioso exercício criativo que se espalha em um intervalo de mais de dez minutos de duração.

Tamanha leveza, também evidente em músicas como The Spine Is Quiet In The Center e The Steady Heart, vem do esforço da artista em resgatar uma série de elementos originalmente testados em obras como Ears (2016) e Sunergy (2016), esse último, bem-sucedido encontro com a musicista Suzanne Ciani, uma de suas principais referências criativas. Do uso dos sintetizadores ao tratamento dado às vozes, tudo soa como uma versão ampliada dos principais registros da cantora. Um misto de resgate e fina transformação, proposta que guia com acerto a experiência do ouvinte até o último instante do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.