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Crítica

Kali Malone

: "All Life Long"

Ano: 2024

Selo: Ideologic Organ

Gênero: Minimalista, Drone

Para quem gosta de: Sarah Davachi e William Basinski

Ouça: All Life Long (for Organ) e Fastened Maze

8.0
8.0

Kali Malone: “All Life Long”

Ano: 2024

Selo: Ideologic Organ

Gênero: Minimalista, Drone

Para quem gosta de: Sarah Davachi e William Basinski

Ouça: All Life Long (for Organ) e Fastened Maze

/ Por: Cleber Facchi 05/03/2024

Registros com foco na produção minimalista costumam se revelar como exercícios criativos marcados pela atmosfera solitária. Dentro de estúdios e quartos fechados, compositores buscam dar vida a suas ideias por meio de instrumentos, computadores e outras ferramentas de trabalho. Não é o caso de All Life Long (2024, Ideologic Organ). Mais recente criação da compositora e pianista estadunidense Kali Malone, o repertório gravado em diferentes locações mostra o esforço da instrumentista radicada na Suécia em continuamente tensionar os limites da própria obra, trilhar novos caminhos e estreitar laços com diferentes colaboradores.

Inaugurado pelo uso das vozes em Passage Through The Spheres, o trabalho instantaneamente rompe com as bases densas que há mais de uma década orientam as criações da instrumentista e revela o que talvez seja o principal direcionamento criativo de Malone em All Life Long: ampliar os próprios domínios. São estudos que preservam as habituais repetições que marcam a obra da compositora, porém, partindo de uma nova perspectiva, como uma fuga do enquadramento solitário vivido durante o período pandêmico.

Com duas diferentes interpretações, No Sun To Burn funciona como uma preciosa representação desse resultado. No primeiro movimento, Malone deixa de lado o papel de protagonista para atuar na condução dos metais assumidos pelo quinteto norte-americano Anima Brass, proposta que concede ao material um caráter quase fúnebre. Já em posse de sua principal ferramenta de trabalho, o órgão de tubo, a musicista estende os limites da canção, convidando o ouvinte a se perder em um verdadeiro labirinto de sensações.

Esse mesmo caráter labiríntico, porém, utilizando de uma teatralidade poucas vezes vista no trabalho de Malone, fica ainda mais evidente na extensa Fastened Maze. São pouco mais de onze minutos em que a compositora, sempre utilizando de movimentos calculados, busca tensionar a experiência do ouvinte, arremessado de um canto a outro no decorrer da faixa. Mesmo quando se concentra na composição de músicas essencialmente curtas, como Retrograde Canon e Formation Flight, meticulosa é a administração dos elementos que naturalmente concedem diferentes tonalidades ao som produzido pela instrumentista.

Nada que prejudique a apresentação de músicas deliciosamente contemplativas, por vezes íntimas dos antigos trabalhos de Malone. É o caso da interpretação aerófana da própria faixa-título do disco. Pouco mais de oito minutos em que a artista se arrasta em meio a movimentos que aumentam a tensão e forte dramaticidade em torno da faixa. É como um tortuoso, porém, permanente desvendar de informações, direcionamento que ainda destaca a produção soturna do conterrâneo estadunidense Stephen O’Malley, parceiro de longa data de Malone de um dos principais idealizadores do grupo de doom drone Sunn O))).

Menos extenso em relação ao repertório entregue no antecessor Does Spring Hide Its Joy (2023), All Life Long acaba se revelando como o exercício criativo mais diverso já produzido por Malone. Do uso das vozes que buscam tensionar os limites entre o profano e o sacro, passando pela inserção de novos instrumentos, cada nova composição parece levar o disco para outras direções. Mesmo elementos há muito consolidados na obra da artista norte-americana, como órgão, ganham diferente tratamento, indicando o princípio de uma nova fase na carreira da compositora, mas que ainda preserva traços da própria identidade criativa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.