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Crítica

Kali Uchis

: "Red Moon In Venus"

Ano: 2023

Selo: Geffen / EMI

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Kehlani

Ouça: I Wish you Roses, Fantasy e Blue

8.3
8.3

Kali Uchis: “Red Moon In Venus”

Ano: 2023

Selo: Geffen / EMI

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Kehlani

Ouça: I Wish you Roses, Fantasy e Blue

/ Por: Cleber Facchi 09/03/2023

Os sentimentos afloram em Red Moon In Venus (2023, Geffen / EMI). Terceiro e mais recente álbum de estúdio de Kali Uchis, o trabalho parte da regência dos astros e diferentes manifestações cósmicas para se aprofundar nas experiências românticas vividas pela cantora e compositora norte-americana. É como um delicado exercício de exposição sentimental, pequenas reflexões sobre feminilidade e a permanente busca da artista pelo próprio conforto emocional. Canções que preservam, pervertem e potencializam tudo aquilo que Uchis já havia explorado em Isolation (2018) e Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) (2020).

Com um pé na psicodelia, efeito da produção caprichosa que destaca a construção dos arranjos e uso enevoado dos vocais, Uchis convida o ouvinte a se perder em um jardim de emoções. Inaugurado em meio a cantos de pássaros, o registro se revela aos poucos, sem pressa, como se cada faixa fosse trabalhada em uma medida particular de tempo. A própria escolha de I Wish You Roses como composição de abertura funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos tratam de forma libertadora e positiva sobre um término de relacionamento, camadas instrumentais detalham o minucioso processo de criação do material, sofisticação que se reflete até os minutos finais do disco, na ensolarada Happy Now.

Embora marcado pelo lento desvendar de informações, Red Moon In Venus está longe de parecer uma obra arrastada. Assim como no material entregue nos registros anteriores, Uchis alterna entre momentos de maior contemplação e faixas que destacam a fluidez dos arranjos, batidas e vozes. Exemplo disso fica bastante evidente na dobradinha composta por Como Te Quiero Yo e Hasta Cuando. Enquanto a primeira desacelera consideravelmente para destacar o lirismo confessional da artista, com a canção seguinte, a cantora flerta com as pistas em uma inusitada combinação que vai do pop latino ao R&B dos anos 1980.

São esses pequenos atravessamentos de informações e diálogos com diferentes parceiros criativos que tornam a experiência de ouvir Red Moon In Venus ainda mais satisfatória. Logo nos minutos iniciais, em Worth the Wait, Uchis se reencontra com Omar Apollo enquanto aponta de forma nostálgica para o soul produzido na década de 1970. Já em Fantasy, colaboração com Don Toliver, a cantora se entrega ao R&B em uma formatação atual e que destaca a construção das batidas. O mesmo direcionamento, porém, partindo de uma abordagem diferente, acontece em Deserve Me, intensa parceria com a cantora Summer Walker.

Nada que diminua o brilho das canções assumidas individualmente por Uchis. Além do material entregue na já conhecida Moonlight, difícil não se deixar conduzir pelo refinamento instrumental e poético que se apodera de músicas como Endlessy e Love Between. São composições que mais uma vez destacam o colorido cruzamento de informações e fino toque de lisergia que se apodera do repertório montado para Red Moon In Venus. Entretanto, é justamente quando rompe com esse resultado e se permite provar de novas possibilidades que a cantora impressiona. Perfeita representação desse resultado acontece em Blue, música em que evoca Sade, flerta com o sophisti-pop e deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos.

Partindo dessa combinação de elementos, Uchis garante ao público uma obra em que resgata muito do que foi apresentado nos trabalhos anteriores, tropeça no forte aspecto monotemático, mas que a todo momento prova de novas sonoridades e incorpora diferentes direções criativas. É como um documento emocional da presente fase da artista. Instantes em que a cantora parte do período de sobriedade que vem passando nos últimos meses para refletir com lucidez sobre questões sentimentais, velhos traumas e novos romances.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.