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Crítica

Kali Uchis

: "Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞"

Ano: 2020

Selo: Interscope / Virgin EMI

Gênero: Pop, R&B, Trap

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Jorja Smith

Ouça: Fue Mejor, Que Te Pedí e La Luz (Fín)

7.5
7.5

Kali Uchis: “Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞”

Ano: 2020

Selo: Interscope / Virgin EMI

Gênero: Pop, R&B, Trap

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Jorja Smith

Ouça: Fue Mejor, Que Te Pedí e La Luz (Fín)

/ Por: Cleber Facchi 30/11/2020

Não é de hoje que Kali Uchis tem feito da relação com a cultura latina a base para o próprio trabalho. Do surgimento, com Por Vida (2015), passando pela boa repercussão em torno do elogiado Isolation (2018), de onde surgiram faixas como Dead To Me e After the Storm, a grande beleza do material entregue pela cantora e compositora de ascendência colombiana sempre esteve no equilíbrio entre o pop estadunidense e os ritmos sul-americanos. E é exatamente isso que a artista busca ampliar nas canções de Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞ (2020, Interscope / Virgin EMI), segundo álbum em carreira solo e primeiro registro cantado inteiramente em espanhol.

Consumido pela força dos sentimentos, conceito reforçado logo no título da obra, o trabalho produzido e gravado durante o período de isolamento social, nasce como uma homenagem de Uchis ao que há de mais doloroso na produção latina. Entre goles de abandono e solidão, a artista que cresceu na região de Virgínia, na Costa Leste dos Estados Unidos, deixa o R&B em segundo plano para provar de boleros, cúmbias e outros estilos marcados pelo forte caráter emocional. Instantes em que a cantora norte-americana se entrega por completo, estreitando a relação com o próprio ouvinte.

Tome um gole, dê uma tragada / Não quero pensar, não quero falar, não / É o suficiente, é demais / Eu não sou isso, eu não terminei“, canta em Fue Mejor, composição que não apenas sintetiza o forte caráter sentimental do disco, como sustenta no encontro com PartyNextDoor o aspecto colaborativo que tradicionalmente define as criações de Uchis dentro de estúdio. São nomes como Rico Nasty, na já conhecida Aquí Yo Mando, Jay Cortez, na melancólica La Luz e a dupla porto-riquenha Jowell & Randy, em Te Pongo Mal(prendelo), outro importante fragmento do disco previamente apresentado ao público.

Entretanto, é quando surge solitária pelo interior do trabalho, como na releitura de Que Te Pedí, que a cantora de fato diz a que veio. Eternizada na voz de Tito Puente, porém, regravada por diversos artistas ao longo dos anos, a música funciona como uma representação do lado mais referencial e dramático da obra, como se Uchis resgatasse a essência de diferentes nomes da produção latina. E isso se reflete em toda a sequência de faixas apresentadas minutos à frente. Composições como Quiero Sentirme Bien, Telepatía e De Nadie em que preserva a essência nostálgica explícita em Isolation, porém, partindo de um novo direcionamento criativo.

Se por um lado esse forte aspecto confessional e permanente diálogo com a produção latina garante ao público algumas das principais composições do álbum, por outro, não há como ignorar o caráter monotemático e evidente similaridade entre as faixas. É como se Uchis fosse incapaz de ultrapassar o cercado poético apresentado logo na introdutória La Luna Enamorada, conceito brilhantemente explorado em Isolation, onde cada faixa, mesmo embalada pelo mesmo lirismo agridoce, parecia aportar em um território diferente, garantindo ao disco frescor e permanente senso de renovação.

Sequência ao material entregue no ainda recente To Feel Alive (2020), apresentado há poucos meses, Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞ reflete a imagem de uma artista em permanente processo de transformação e busca pela própria identidade, mesmo que pontuado por pequenos tropeços e momentos de maior instabilidade. Do lirismo confessional que serve de sustento ao disco, passando pelo resgate de composições icônicas e ritmos regionais, tudo parece organizado dentro de um universo próprio da cantora, direcionamento que embala com naturalidade a experiência do ouvinte até a derradeira Ángel Sin Cielo.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.