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Crítica

Karol Conká

: "Urucum"

Ano: 2022

Selo: Sony Music

Gênero: Hip-Hop, Rap, Pop

Para quem gosta de: Flora Matos e Tássia Reis

Ouça: Cê Não Pode e Mal Nenhum

6.0
6.0

Karol Conká: “Urucum”

Ano: 2022

Selo: Sony Music

Gênero: Hip-Hop, Rap, Pop

Para quem gosta de: Flora Matos e Tássia Reis

Ouça: Cê Não Pode e Mal Nenhum

/ Por: Cleber Facchi 13/04/2022

Em um intervalo de pouquíssimas semanas, Karol Conká foi de um dos nomes mais promissores da cena brasileira para a mulher mais odiada do país. Em passagem pelo Big Brother Brasil, a rapper curitibana deixou a casa com uma rejeição histórica de 99, 17% dos votos, efeito direto da postura incoerente e atitudes apontadas como nocivas pelos espectadores e participantes do programa. Vem justamente desse turbulento processo vivido pela artista o estímulo para as canções de Urucum (2022, Sony Music), trabalho em que reflete sobre esse momento tão delicado, busca se reerguer e abraçar as próprias contradições.

A rua não é brincadeira / Cuida pra não levar rasteira“, dispara logo nos minutos iniciais do trabalho, na poesia autocrítica de Se Sai, composição que sintetiza parte dos temas incorporados pela artista durante toda a execução do material. São versos sempre marcados pelo forte caráter reflexivo, porém, consistentes e sóbrios, como se a rapper tivesse plena consciência e dimensão do impacto causado durante a passagem pelo programa. “Quem nunca erra / Sempre tá por cima / E quem tá por cima / Finge que não erra“, completa em meio a batidas e bases reducionistas que abrem passagem para a canção seguinte, a já conhecida Mal Nenhum, música em que amplia essa discussão de forma ainda mais sensível e intimista. “Tão tentando entender / Tão difícil de entender / Tudo que fiz e farei / Cicatrizes que deixei“, rima.

Claro que essa postura branda não interfere na construção de faixas marcadas pelo fino toque de deboche e forte aspecto provocativo, já esperado da artista curitibana. “Mais uma vez tô pisando aqui / Eu sou foda, pode admitir / Tem que vaia e quem vai aplaudir / Não dá pra resistir“, atiça em Cê Não Pode, perfeita representação do lirismo ácido que tem sido incorporado desde o introdutório Batuk Freak (2013). São canções em que utiliza das próprias incongruências para romper com qualquer traço de arrependimento e pacifismo barato, componente usado de forma exaustiva em diversos momentos ao longo da obra.

Exemplo disso fica bastante evidente em Vejo o Bem, música de rima pobre em que tropeça no que há de mais barato na literatura de autoajuda. A própria Sossego, minutos à frente, com suas exaltações e conquistas rasas, pouco avança quando próxima de outras criações da rapper que partilham de temáticas similares, caso de Gueto ao Luxo e Sandália. Composições que buscam reforçar a imagem construída durante o documentário A Vida Depois do Tombo (2021), lançado após a participação no programa, mas que invariavelmente tendem ao mesmo esvaziamento que resultou no meme limpa, limpa, limpa tudo.

Dos poucos momentos em que se distancia desse resultado, Conká mergulha na construção de faixas marcadas pela celebração, romances e instantes de maior vulnerabilidade. De um lado, canções como a introdutória Fuzuê, com suas batidas e rimas quentes, no outro, músicas como a reducionista Slow, composição em que flerta com o R&B e encanta pela sensibilidade dos versos, porém, tropeça no uso limitado da própria voz. São tentativas, erros e acertos que tornam a experiência de ouvir o trabalho bastante instável, direcionamento que se reflete até a derradeira Louca e Sagaz, parceria com WC No Beat.

Independente dos caminhos percorridos ao longo da obra, pequenos excessos e faixas que não avançam criativamente, Urucum tem seus bons momentos. Diferente do material entregue em Ambulante (2018), Conká volta a explorar tensões sociais e inquietações que se distanciam da abordagem escapista testada no disco anterior. A própria relação com a música brasileira, reforçada pela produção minuciosa de Rodrigo Dias, o RDD, um dos idealizadores do grupo baiano ÀTTØØXXÁ, torna tudo ainda mais atrativo, como um regresso atualizado ao mesmo território criativo de Batuk Freak. Canções que abrem passagem para um nova fase na carreira da artista, mesmo de maneira ainda incerta e estruturalmente confusa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.