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Crítica

Katie Dey

: "Mydata"

Ano: 2020

Selo: Run for Cover

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop, Experimental

Para quem gosta de: Alex G, Half Waif e Porches

Ouça: Dancing, Darkness e Happiness

7.5
7.5

Katie Dey: “Mydata”

Ano: 2020

Selo: Run for Cover

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop, Experimental

Para quem gosta de: Alex G, Half Waif e Porches

Ouça: Dancing, Darkness e Happiness

/ Por: Cleber Facchi 06/08/2020

Classificar o som produzido por Katie Dey está longe de parecer uma tarefa simples. Em um intervalo de poucos anos, a cantora e compositora australiana foi do pop psicodélico ao experimentalismo eletrônico em uma criativa colgem de ideias e ritmos. São obras como Asdfasdf (2015), Flood Network (2016) e o ainda recente Solipsisters (2019) em que a artista de Melbourne parece jogar com as possibilidades dentro de estúdio, estrutura que ganha novo resultado nas canções de Mydata (2020, Run for Cover), quarto e mais recente trabalho de inéditas produzido por Dey.

Musicalmente contido quando próximo do registro que o antecede, o álbum produzido e gravado de forma caseira mostra o esforço de Dey em lidar com uma obra de essência econômica. Como indicado logo nos primeiros minutos do disco, em Darkness, parte expressiva da obra gira em torno de sintetizadores atmosféricos, melodias e batidas eletrônicas. Instantes em que a cantora australiana evoca a mesma sonoridade incorporada por Grimes nos primeiros registros autorais, porém, livre dos som delirante que historicamente define as criações da artista canadense.

Se por um lado o disco adota uma sonoridade reducionista, por outro, percebemos um fortalecimento na construção dos versos. São letras sempre marcadas pela vulnerabilidade da cantora, momentos de doce melancolia e profunda entrega sentimental. “Eu quero amor / Não estou acima disso / Não há mais como negar / Eu também quero sentir amor por você“, confessa em Happiness, uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público e uma clara síntese de tudo aquilo que Dey busca desenvolver até o último instante do registro, na também sentimental Data.

A principal diferença em relação a outras obras marcadas pelo mesmo lirismo sentimental diz respeito aos temas incorporados pela cantora ao longo do trabalho. Para a produção do disco, a artista australiana decidiu mergulhar em romances virtuais e formas de relacionamento geradas pelas redes sociais. São canções que parecem saídas de uma troca de mensagens pelo celular ou da tela de um computador, conceito reforçado pelo tratamento eletrônico dado à voz de Dey, vide músicas como a sintética Leaving, faixa que dialoga com as criações de Caroline Polachek no ainda recente Pang (2019).

Dentro desse território particular, Dey entrega ao público músicas como a crescente Dancing, com seus sintetizadores e batidas destacadas, o experimentalismo da reducionista Hurting ou mesmo faixas como a agridoce Closeness. Instantes em que a artista australiana transforma os próprios conflitos em um precioso componente de diálogo com o ouvinte, arrastado para dentro desse território marcado por amores passageiros, desilusões amorosas e conflitos intimistas. Da abertura do disco, em Darkness, até alcançar a já citada Data, tudo gira em torno desse mesmo universo temático.

Com base nessa estrutura, Dey garante ao público uma obra livre da urgência que move os primeiros registros de estúdio, porém, tão atrativa quanto qualquer outro trabalho entregue nos últimos anos. Canções talvez contidas na forma a artista detalha a composição dos arranjos e temas instrumentais, porém, tocantes em cada fragmento lírico incorporado pela cantora. De fato, poucas vezes antes um registro da compositora australiana pareceu tão honesto. Frações poéticas que deixam de pertencer à própria criadora para dialogar com qualquer ouvinte.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.