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Crítica

Kedr Livanskiy

: "Liminal Soul"

Ano: 2021

Selo: 2MR

Gênero: Eletrônica, Techno Pop

Para quem gosta de: Kate NV, Yaeji e Sassy 009

Ouça: Your Turn, Boy e Stars Light Up

7.7
7.7

Kedr Livanskiy: “Liminal Soul”

Ano: 2021

Selo: 2MR

Gênero: Eletrônica, Techno Pop

Para quem gosta de: Kate NV, Yaeji e Sassy 009

Ouça: Your Turn, Boy e Stars Light Up

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2021

Produtora, cantora e compositora moscovita, Kedr Livanskiy parece ter encontrado um lugar que pertence somente a ela. Parte de uma frente de artistas que vêm ressignificando a produção eletrônica nos últimos anos, como Yaeji e Kelly Lee Owens, a jovem russa encontrou no uso fragmentado das próprias vozes e ambientações que vão do dream pop ao techno a base para uma sequências de registros autorais sempre imprevisíveis, etéreos e estranhamente hipnóticos. Composições que transitam por entre estilos de forma deliciosamente desordenada, ainda que imersas dentro de um ambiente homogêneo de formas flutuantes.

E é exatamente isso que você encontra nas canções de Liminal Soul (2021, 2MR). Terceiro e mais recente álbum de inéditas de Livanskiy, o trabalho preserva a essência dos antigos registros da produtora moscovita, porém, se permite avançar criativamente, provocando de novas possibilidades e direções criativas pouco usuais. Exemplo disso acontece em Stars Light Up (Посмотри на небо). Primeira composição do disco a ser apresentada ao público, a faixa estreita a relação com a música pop, porém, estabelece no uso instrumental das vozes e sintetizadores retorcidos um precioso elemento de ruptura.

Vem justamente desse permanente contraste entre o que há de mais acessível e experimental na produção de Livanskiy o estímulo para algumas das principais composições do disco. É o caso de Boy. Partindo de uma base nostálgica de sintetizadores que apontam diretamente para o início dos anos 1990, a canção rapidamente se converte em um labirinto de vozes e ruídos eletrônicos que evidenciam a versatilidade da artista russa. O mesmo acontece com Teardrop (Слеза), música que utiliza de uma abordagem bastante similar, porém, potencializa o uso das vozes e versos sempre centrados em conflitos sentimentais.

De fato, Liminal Soul é o trabalho em que Livanskiy mais se atenta ao tratamento dado aos versos. São canções ancoradas em desilusões amorosas, conflitos existencialistas e letras sempre consumidas pela sensação de abandono, como um reflexo natural do período de isolamento social vivido nos últimos meses. Mesmo a base instrumental ecoa de forma melancólica, como um regresso natural ao fino repertório apresentado pela produtora no primeiro álbum de estúdio da carreira, Ariadna (2017), e uma fuga dos temas ensolarados que orientam parte expressiva das canções reveladas no antecessor Your Need (2019).

Outro aspecto bastante pertinente em relação ao trabalho diz respeito ao maior diálogo de Livanskiy com diferentes colaboradores. Síntese dessa criativa combinação de ideias e vozes acaba se refletindo em Night. Completa pela participação do conterrâneo Synecdoche Montauk, a faixa não apenas chama a atenção pelo encontro das vozes entre os dois artistas, como sustenta nas batidas a passagem para um novo território criativo. O mesmo acontece na já conhecida Your Turn, parceria com o produtor moscovita Evgeniy Fadeev, o Flaty, em que se destacam as batidas, ruídos eletrônicos e micro-ambientações.

Livre de qualquer traço de conforto, porém, ainda íntima de tudo aquilo que tem revelado desde os primeiros registros autorais, Livanskiy alcança um evidente ponto de equilíbrio que faz do disco um dos trabalhos mais interessantes já apresentados pela artista. São combinações pouco usuais que se completam pela inserção de versos sempre sensíveis. Composições que apontam com naturalidade para as pistas, mesmo marcadas pelo forte aspecto contemplativo, direcionamento que se reflete tão logo o disco tem início, em Celestial Ether, mas que ganha maior destaque à medida em que o álbum avança.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.