Ano: 2024
Selo: PGLang / Interscope
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Schoolboy Q e Kanye West
Ouça: Reincarnated, TV Off e Luther
Ano: 2024
Selo: PGLang / Interscope
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Schoolboy Q e Kanye West
Ouça: Reincarnated, TV Off e Luther
Desde que deu vida ao último trabalho de estúdio, Mr. Morale & the Big Steppers (2022), Kendrick Lamar não parou mais. Além de seguir em uma extensa turnê de divulgação do material, o artista engatou em uma série de canções para desmoralizar o rapper Drake, culminando em uma apresentação histórica intitulada The Pop Out: Ken & Friends, em junho deste ano. Talvez, por isso, ao embarcar nas músicas de GNX (2024, PGLang / Interscope), mais recente disco do californiano, a sensação de cansaço seja bastante perceptível.
Lançado de surpresa, o trabalho mostra um artista ainda mais contemplativo e musicalmente reducionista do que no disco anterior. A própria imagem de capa, com Kendrick posando ao lado de um Buick Grand National Regal GNX, de 1987, o mesmo modelo de carro que o pai usou para levá-lo para casa do hospital após seu nascimento, funciona como uma boa representação desse resultado. São canções que tratam de memórias afetivas, relações familiares, dores e conquistas pessoais de forma bastante sensível e intimista.
O problema acaba ficando por conta da produção do trabalho. Com boa parte das canções assinadas por Sounwave, com quem tem colaborado desde a estreia com Section.80 (2011), e o cada vez mais requisitado Jack Antonoff, GNX segue uma estrutura exageradamente linear, previsível e sem grandes alterações. Se antes tínhamos composições como a transcendental Mother I Sober e a dramática We Cry Together, o que percebemos agora é o oposto disso, com Lamar se perdendo em um tedioso conjunto de batidas e bases.
Não por acaso, sobrevive nos momentos em que mais se distancia desse resultado o estímulo para algumas das melhores composições do trabalho. É o caso de Reincarnated. Enquanto a base da canção se sustenta inteiramente a partir de Made Niggaz, de 2Pac e Outlawz, Lamar avança sobre o ouvinte em um denso jogo de versos que tratam sobre hereditariedade (“Tenho lutado contra minha alma”), adversidades (“Tentando navegar entre o real e o falso”) e a conquista do próprio espaço (“Procurando o meu lugar no mundo”).
E ela não é a única. A própria TV Off, vinda logo em sequência, mais uma vez destaca a potência das rimas e bases grandiosas que rompem com o acabamento acinzentado e econômico do restante do álbum. Pena que, para cada momento de maior intensidade, há sempre uma contraparte que desestabiliza a fluidez do material. Claro que isso não interfere na produção de composições que, mesmo contidas, encantam pela sensibilidade dos arranjos e versos, como em Luther e Gloria, ambas concebidas em parceria com SZA.
São canções talvez livres da mesma força criativa e riqueza de ideias explícita em alguns dos principais trabalhos do rapper, como Good Kid, M.A.A.D City (2012), To Pimp a Butterfly (2015) e DAMN (2017), mas que em nenhum deixam de atrair a atenção do ouvinte ou estão minimamente perto de manchar o legado do rapper. Pelo contrário, é sempre bom ver como a cada novo registro Lamar está longe de se repetir em estúdio, fazendo de GNX a passagem para um território diferente do que havia explorado no disco anterior.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.