Ano: 2022
Selo: Dead Oceans
Gênero: Rock, Folk Rock
Para quem gosta de: Waxahatchee e Kurt Vile
Ouça: This Is a Photograph e Bittersweet, TN
Ano: 2022
Selo: Dead Oceans
Gênero: Rock, Folk Rock
Para quem gosta de: Waxahatchee e Kurt Vile
Ouça: This Is a Photograph e Bittersweet, TN
Desde o início dos trabalhos em carreira solo, Kevin Morby sempre tratou das próprias criações de forma bastante confessional, como a passagem para um território particular. Entretanto, poucas vezes antes o cantor e compositor norte-americano pareceu tão vulnerável quanto nas canções de This Is a Photograph (2022, Dead Oceans). Sétimo e mais recente álbum de estúdio do músico que já passou por bandas como Woods e The Babies, o registro encanta pela capacidade do artista em resgatar antigas memórias e fazer de reflexões sobre a inevitabilidade da passagem do tempo um delicado elemento de diálogo com o ouvinte.
“Isso é uma fotografia, uma janela para o passado … Isso é o que vou sentir falta depois que eu morrer“, detalha logo nos minutos iniciais do trabalho, na já conhecida faixa-título, composição que não apenas evidencia a entrega de Morby, como apresenta uma série de conceitos que serão resgatados pelo artista durante toda a execução do material. São versos que partem de experiências pessoais, como um incidente em que o pai do cantor desmaiou em um jantar depois de tomar acidentalmente o dobro de medicação para o coração, mas que ganham novas tonalidades e incorporam diferentes temáticas a cada execução.
Marcada pela completa subjetividade e delicadeza dos versos, A Coat of Butterflies é um bom exemplo desse resultado. Enquanto a produção minuciosa de Sam Cohen, parceiro de longa data do artista, parece destacar cada instrumento ao longo da faixa, como a harpa de Brandee Younger e o saxofone de Cochemea Gastelum, Morby se aprofunda em inquietações sobre a morte, referencia Led Zeppelin, reflete sobre a partida precoce de Jeff Buckley e outros conflitos particulares. É como se diferentes histórias e pequenas observações fossem amarradas dentro de cada canção, ampliando consideravelmente os limites da obra.
Embora ecoe de forma entristecida na construção dos versos, This Is a Photograph sustenta no uso dos arranjos e ritmo dado à obra uma parcial fuga desse direcionamento melancólico. Perfeita representação desse resultado acontece em Rock Bottom. São batidas e guitarras enérgicas, contrastando com a poesia que se aprofunda na relação de Morby com os próprios pais (“Toda a minha vida, apenas tentando ser como meu pai / Toda a minha vida, até a teta da minha mãe“). Mesmo quando desacelera, como em Bittersweet, TN, parceria com Erin Rae, evidente é o esforço do artista em envolver e confortar o ouvinte.
Entretanto, por se tratar de um registro dotado de uma temática bastante específica, utilizando de símbolos e elementos que acabam se repetindo ao longo da obra, como a cidade de Memphis, This Is a Photograph invariavelmente tende ao excesso. Salve criações isoladas, como a delicada Stop Before I Cry, confessa homenagem à amada Katie Crutchfield, com quem tem vivido um relacionamento nos últimos anos, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias e experiências. E isso se reflete em toda a sequência de trabalhos revelados pelo artista nos últimos anos, sempre apoiados em um mesmo conceito central.
A diferença em relação a outros registros de Morby, como o antecessor Sundowner (2020), está na forma como o artista se atenta aos detalhes e ainda estreita a relação com um time seleto de colaboradores. São nomes como Cassandra Jenkins, Tim Heidecker, Makaya McCraven e a atriz Alia Shawkat, que surgem em momentos estratégicos ao longo da obra, como um complemento direto aos temas instrumentais e líricos do trabalho. Dessa forma, o músico garante ao público um repertório marcado pela particularidade dos temas, porém, conceitualmente amplo, proposta que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.