Quando pensamos em estilos tão característicos como o juke e o footwork, difícil não lembrar do trabalho de alguns dos grandes expositores do gênero, como DJ Rashad, RP Boo, Traxman e outros nomes da cena de Chicago. Entretanto, a tunisiana Khadija Al Hanafi há muito tem conquistado seu espaço. Depois de dois ótimos discos da série Slime Patrol, a produtora retorna com o que talvez seja sua melhor obra, !OK! (2025, Fada Records), registro em que estabelece a própria identidade criativa e ainda expande seus horizontes.

Conceitualmente próximo de outros exemplares do gênero, com seus ritmos rápidos e repetitivos, batidas quebradas e fragmentos de vozes, !OK! segue a cartilha proposta por diferentes produtores de Chicago há mais de três décadas, porém, trilha um percurso único. Ainda que voltada ao estilo industrial do footwork, Al Hanafi consolida no uso melódico das bases um elemento estilístico e identitário totalmente particular.

Exemplo disso fica bastante evidente em Eat That Pussy. São pouco menos de dois minutos em que a artista parte de uma base jazzística para encorpar o uso esquelético das batidas, rompendo com o reducionismo de outros exemplares do gênero. Nesse sentido, Al Hanafi parece muito mais próxima da obra de Madlib e J Dilla do que da cena de Chicago, direcionamento reforçado em outros momentos no decorrer do trabalho.

Em DJ Hanafi, por exemplo, são batidas e retalhos de vozes que se espalham em um ritmo acelerado, mas que estabelece no uso das bases cíclicas um componente quase hipnótico, lembrando as criações de Flying Lotus. A própria canção que dá nome ao disco, posicionada logo na abertura do trabalho, com suas batidas em segundo plano e maior valorização das guitarras, sintetiza muito do que a produtora busca desenvolver.

Nada que prepare o ouvinte para o que Al Hanafi apresenta em Always Treat U RiTE. Ainda que as batidas preservem a essência de outros exemplares do gênero, o uso destacado das vozes e maior aceleração das bases concede à composição um caráter dançante, flertando com o pop. É como se a produtora aos poucos conduzisse o ouvinte em direção às pistas, conceito também reforçado na pegajosa Bounce It On The Flo.

Tamanha pluralidade de estilos faz de !OK! um trabalho que a cada nova faixa dialoga com o passado, mas em nenhum momento se permite consumir por ele. Assim como Jlin e outras mulheres imersas no mesmo campo da produção eletrônica, Khadija Al Hanafi joga com regras próprias. Ainda que muitas das canções pareçam ideias em formação, a trilha não convencional da tunisiana nos leva para cenários inimagináveis.

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