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Crítica

Killer Mike

: "Michael"

Ano: 2023

Selo: VLNS / Loma Vista

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Big Boi e The Roots

Ouça: Scientists & Engineers e Don’t Let The Devil

7.6
7.6

Killer Mike: “Michael”

Ano: 2023

Selo: VLNS / Loma Vista

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Big Boi e The Roots

Ouça: Scientists & Engineers e Don’t Let The Devil

/ Por: Cleber Facchi 29/06/2023

Michael (2023, VLNS / Loma Vista) não é apenas um regresso de Killer Mike em carreira solo após um intervalo de dez anos como uma das metades do Run The Jewels, mas um retorno do artista ao próprio passado. Primeiro disco de inéditas desde R.A.P. Music (2012), o álbum busca inspiração nas memórias da infância e nas vivências do rapper criado em um núcleo religioso, porém, se estende para além de um repertório puramente nostálgico. São canções que encontram no passado um precioso componente de reflexão e espelhamento do presente, mergulhando em diferentes questões pessoais, políticas e raciais.

Inaugurado pela crescente Dawn By Law, canção que se completa pelas vozes de CeeLo Green, Michael resume logo nos minutos iniciais tudo aquilo que será apresentado no decorrer do registro. São batidas sempre destacadas, diálogos com a música gospel e versos que transitam por diferentes fases na vida do artista. “Abençoe todos os criminosos que lidaram com o crueza / Fodam-se todos os escrutinadores que correram para a lei / Cuidado com os rebatedores com paus em seus carros / Meu nome é Michael, e eu sou um fora da lei“, rima em uma abordagem ascendente, como um chamado para o restante da obra.

Embora marcado pelo forte aspecto pessoal, como um mergulho na mente e nas inquietações do rapper, Michael talvez seja o trabalho que mais destaca o aspecto colaborativo de Killer Mike. São canções que se completam pelas rimas e coros de vozes de diferentes parceiros criativos, proposta que naturalmente amplia os limites da obra e estreita relações com o ouvinte de múltiplas formas. Exemplo disso pode ser percebido na melancólica Motherless, uma delicada reflexão sobre a mãe do artista, já falecida, mas que se completa pelo canto potente de Eryn Allen Kane, parceira em outras composições ao longo do registro.

Vem justamente da forte relação com diferentes colaboradores o estímulo para algumas das principais composições do trabalho. É o caso de Scientists & Engineers. Enquanto a base da canção destaca os sintetizadores futurísticos e produção caprichosa de James Blake, versos assinados em conjunto com André 3000 e Future discutem a contrastante disparidade entre a evolução tecnológica e o retrocesso vivido pelas classes mais baixas da população. É como se o rapper seguisse de onde parou há mais de uma década, porém, partindo de um precioso exercício de atualização e busca por novos parceiros criativos.

É claro que esse esforço em ampliar o próprio repertório não impede que o artista volte a estreitar laços com velhos colaboradores. E isso fica bastante evidente no que talvez seja uma das principais faixas do disco, a já conhecida Don’t Let The Devil. Completa pela participação de El-P, produtor de R.A.P. Music e parceiro no Run The Jewels, a faixa ainda conta com as vozes de Thankugoodsir. Quem também marca presença durante toda a execução do material é No I.D., responsável pela produção de parte das canções que potencializam o uso das vozes negras, lembrando as criações de Kanye West em início de carreira.

Mesmo bem sucedida na maior parte do tempo, essa constante interferência de diferentes parceiros tende a diluir a identidade criativa do rapper, deixando o ouvinte com a sensação de que a consistência do material foi comprometida. Isso fica bastante evidente nos encontros do artistas com nomes mais recentes da cena norte-americana, como 6lack, em Nrich, e Blxst, na faixa Exit 9. São pequenos atravessamentos e distrações que não necessariamente comprometem os momentos de maior grandeza do registro, porém, inviabilizam a formação de um repertório tão coeso quanto os antigos trabalhos lançados por Killer Mike.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.