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Crítica

Kings of Convenience

: "Peace or Love"

Ano: 2021

Selo: EMI

Gênero: Indie Pop, Folk

Para quem gosta de: Feist e José González

Ouça: Fever e Love Is a Lonely Thing

7.0
7.0

Kings of Convenience: “Peace or Love”

Ano: 2021

Selo: EMI

Gênero: Indie Pop, Folk

Para quem gosta de: Feist e José González

Ouça: Fever e Love Is a Lonely Thing

/ Por: Cleber Facchi 23/06/2021

Instrumentação econômica, melodias sofisticas e fragmentos de vozes que se apresentam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. Mais de uma década após o lançamento de Declaration of Dependence (2009), Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe continuam a seguir pela mesma trilha reducionista em Peace of Love (2021, EMI). Quarto e mais recente trabalho de estúdio do Kings of Convenience, o registro de essência minimalista mostra a capacidade da dupla norueguesa em encantar o público mesmo imerso em um território há muito desbravado pelos dois artistas. Composições que invariavelmente tendem ao conforto, porém, convencem na precisão dos arranjos e sentimentos que orientam a experiência do ouvinte até a música de encerramento, Washing Machine.

E esse cuidado fica bastante evidente logo nos primeiros minutos da obra, na introdutória Rumours. Enquanto os versos parecem acolher e confortar o ouvinte (“Não deixe que eles lhe digam, não deixe que digam quem você é“), ambientações acústicas se revelam ao público em pequenas doses. São violões sobrepostos e arranjos de cordas que trazem de volta a atmosfera dos introdutórios Quiet Is the New Loud (2001) e Riot on an Empty Street (2004). O mesmo refinamento, porém, partindo de uma abordagem sutilmente enérgica acaba se refletindo na canção seguinte, Rocky Trail, música que evoca João Gilberto, uma das principais referências criativas da dupla, porém, ainda imersa na mesma base instrumental que embala o trabalho do Kings of Convenience desde o início da carreira.

Minutos à frente, em Comb My Hair, o dedilhado acústico serve de passagem para uma das letras mais dolorosas já produzidas pelos dois músicos. “Não tenho nada para dizer / Eu tenho que olhar pra frente / Aquele amor que eu uma vez senti por você / Agora está quase morto“, canta Øye. São versos intimistas, como um passeio pela mente angustiada do próprio compositor, direcionamento reforçado na faixa seguinte, Angel. “Anjo, ela é um anjo / Porém, ela pode ser, ou eu criei isso?“, questiona. Nada que se compare ao material entregue em Love Is a Lonely Thing, reencontro com Feist, parceiira de longa data da dupla. “O amor é dor e sofrimento, o amor pode ser uma coisa solitária / Depois de conhecer essa magia, quem pode viver sem ela?“, cresce a letra da canção.

Em Fever, sexta faixa do disco e uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público, Øye e Bøe mais uma vez investem na construção de uma faixa acessível, como se pensada para confortar o ouvinte. São melodias aprazíveis, arranjos de cordas ocasionais e vozes perfeitamente trabalhadas dentro de estúdio. Um momento de evidente leveza, como um preparativo para a melancolia que invade a sequência composta por Killers e Ask for Help. São pouco mais de oito minutos em que a dupla exclui todo e qualquer excesso de forma a potencializar a construção dos versos. Instantes em que o Kings of Convenience traz de volta parte da atmosfera detalhada em Declaration of Dependence, porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível.

Mais uma vez acompanhados de Feist, o duo norueguês faz de Catholic Country outro importante fragmento do disco. Marcada pelos detalhes, a faixa passeia em meio a arranjos ensolarados que ora apontam para a bossa nova, ora fazem lembrar dos primeiros registros da convidada canadense, principalmente o reducionista Let It Die (2004). Entretanto, sobrevive na construção dos versos a real beleza da canção. São inquietações sobre a descoberta de um novo amor, estrutura que alterna entre momentos de maior angústia e doce celebração. “Quanto mais eu sei sobre você / Quanto mais eu sei te quero / Quanto menos me importo com quem / Estava lá antes de eu te encontrar“, sussurra a artista em meio a delicadas paisagens instrumentais e harmonias de vozes sempre refinadas.

Para o fechamento do disco, a dupla mais uma vez desacelera, porém, utiliza da mesma abordagem cuidadosa que orienta o restante da obra. Enquanto Song About It mostra a busca por um novo direcionamento criativo, investindo na composição de uma faixa vagarosa e espaçada, Washing Machine utiliza da mesma base ritmada que apresentou o Kings of Convenience no começos dos anos 2000. São entalhes minuciosos, como se Øye e Bøe soubessem exatamente que direção seguir dentro de estúdio. Instantes em que os dois artistas trazem de volta todos os elementos que foram incorporados durante a produção dos registros que antecedem Peace or Love, porém, salpicando componentes líricos e instrumentais que proporcionam ao disco um fino toque de renovação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.