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Crítica

Koffee

: "Gifted"

Ano: 2022

Selo: Sony UK / RCA

Gênero: Reggae, R&B, Dancehall

Para quem gosta de: Chronixx e Shenseea

Ouça: West Indies, Shine e Pull Up

7.8
7.8

Koffee: “Gifted”

Ano: 2022

Selo: Sony UK / RCA

Gênero: Reggae, R&B, Dancehall

Para quem gosta de: Chronixx e Shenseea

Ouça: West Indies, Shine e Pull Up

/ Por: Cleber Facchi 12/04/2022

Como se não bastasse a boa repercussão em torno do primeiro EP de inéditas da carreira, Rapture (2019), Mikayla Simpson, a Koffee, ganhou ainda mais destaque quando, meses após o lançamento do registro, foi consagrada como a grande vencedora do Grammy de 2020 na categoria Melhor Álbum de Reggae. Interessante perceber nas canções de Gifted (2022, Sony UK / RCA), primeiro trabalho de estúdio da cantora e compositora jamaicana, um exercício criativo que não apenas se distancia de toda essa carga, como corresponde às expectativas e ainda abre passagem para um universo de novas possibilidades.

Livre de qualquer traço de urgência, como tudo aquilo que Koffee tem produzido desde os primeiros registros autorais, o trabalho encanta pela atmosfera ensolarada, observações atentas da artista sobre aspectos simples do cotidiano e momentos de maior vulnerabilidade. “Sol quente na neve / Viva pelo suor da minha testa / Eu posso ver o amanhã / Estou feliz por estar vivendo, você sabe“, confessa logo nos primeiros minutos do disco, na acolhedora x10, música que não apenas resgata tudo aquilo que foi apresentado em Rapture, como aponta a direção seguida pela jamaicana até o fechamento da obra.

Essa mesma sutileza no processo de construção dos versos acaba se refletindo na forma como a base instrumental do disco em nenhum momento ultrapassa o que parece ser uma atmosfera deliciosamente contida. São batidas e ambientações enevoadas, fragmentos de vozes trabalhados como complemento aos arranjos e inserções ensolaradas que concedem ao disco um caráter matutino. Exemplo disso fica bastante evidente na própria faixa-título do disco. Pouco menos de três minutos em que Koffee e o produtor Ging, anteriormente conhecido como Frank Dukes, parecem transportar o ouvinte para um mundo mágico.

Mesmo quando se distancia desse resultado, Koffee mantém firme a leveza que serve de sustento ao disco. São canções como Pull Up e Lockdown que refletem a busca da cantora por um repertório cada vez mais acessível, pop, provando de elementos que apontam para diferentes direções criativas e temáticas. É como uma fuga do aspecto contemplativo que marca os minutos iniciais do trabalho. “Se você me conhece, estou tendo o melhor momento da minha vida / Não me atrase, imploro que me perdoe / Eu quero apenas festejar“, detalha em West Indies, música que sintetiza com naturalidade parte dessa transformação.

São composições que seguem de onde a cantora parou durante o lançamento de Rapture, porém, provando de novas possibilidades, ritmos e tendências que vão do R&B ao pop em uma linguagem sempre atualizada. Instantes em que a artista tende ao conforto, sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra previsível. O mais interessante talvez seja perceber a forma como Koffee referencia outros exemplares da música caribenha, porém, preservando a própria identidade, direcionamento explícito em faixas como Lonely, com suas harmonias de vozes e arranjos que costuram passado e presente do gênero.

Sobrevive justamente nessa abordagem equilibrada de Gifted um importante componente criativo para o fortalecimento do material. São décadas de referências dissolvidas em um intervalo de poucos minutos de duração, estrutura que, mesmo tratada de maneira efêmera, em nenhum momento ecoa de forma apressada. Do uso das vozes ao tratamento dado aos arranjos e minucioso encaixe das batidas, cada mínimo fragmento do registro parece trabalhado em uma medida particular de tempo. Canções que funcionam como uma fuga breve da realidade, servindo de passagem para um ambiente próprio de Koffee.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.