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Crítica

Koreless

: "Agor"

Ano: 2021

Selo: Young

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Jacques Greene e Loraine James

Ouça: Black Rainbow e Strangers

7.0
7.0

Koreless: “Agor”

Ano: 2021

Selo: Young

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Jacques Greene e Loraine James

Ouça: Black Rainbow e Strangers

/ Por: Cleber Facchi 23/07/2021

Desde o início da carreira, Lewis Roberts, o Koreless, nunca pareceu seguir uma trilha linear. E isso se reflete em toda a sequência de composições apresentadas pelo produtor galês ao longo da última década. São criações avulsas, remixes e blocos de canções que se dividem entre momentos de maior abstração e faixas essencialmente sensíveis, como um acumulo das referências e tentativas do artista original de Bangor em consolidar de maneira bastante específica a própria identidade artística. Vem justamente dessa tentativa de colidir ideias e buscar por novas possibilidades a base para o primeiro álbum de estúdio de Roberts, Agor (2021, Young), obra que transita por diferentes campos da música eletrônica de forma tão provocativa e torta quanto estranhamente acolhedora.

Entregue ao público depois de um longo período de isolamento do produtor, Agor, assim como os antigos trabalhos de Koreless, é uma obra que se revela em uma medida própria de tempo. São estruturas ascendentes que partem de uma base de sintetizadores e melodias etéreas, porém, sempre adornadas por texturas e quebras criativas que tensionam a experiência do ouvinte. É como se o artista galês seguisse o caminho oposto de Jamie XX, SBTRKT e outros produtores britânicos que surgiram na mesma época. Canções que posicionam as batidas em segundo plano para brincar com o uso de ambientações inexatas. Um lento desvendar de ideias e experiências sensoriais, conceito que se reflete desde a dobradinha composta pelas introdutórias 4D e MTI, lançadas há dez anos.

E isso fica bastante evidente em White Picket Fence. Partindo do uso atmosférico de vozes sintéticas, Roberts rapidamente mergulha em uma corredeira de sons inexatos e quebras conceituais que jogam com a experiência do ouvinte. E como se o produtor galês fosse de encontro ao mesmo conceito criativo de R Plus 7 (2013), uma das grandes obras de Oneohtrix Point Never, porém, preservando o forte caráter autoral e dinamismo. Canções que partem de um direcionamento etéreo, mas em nenhum momento transparecem morosidade, mantendo a atenção do ouvinte em alta até a derradeira Strangers. É como se Koreless encontrasse no reducionismo dos elementos a passagem para um território marcado pelas possibilidades e incontáveis variações rítmicas e estruturais.

Claro que isso não interfere na produção de faixas marcadas pelo uso destacado das batidas e maior firmeza no encaixe dos elementos. É o caso de Joy Squad. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a canção parte de uma abordagem atmosférica, porém, cresce na criativa manipulação das melodias e atravessamentos que interferem diretamente na experiência do ouvinte. Pouco mais de quatro minutos em que Roberts parece jogar como os instantes, brincando com a imprevisibilidade das vozes, ruídos e sintetizadores. A própria Black Rainbow, mesmo regida por um conceito atmosférico, utiliza de uma linguagem bastante similar, detalhando texturas e inserções sintéticas que encolhem e crescem a todo instantes, sempre de maneira imprevisível.

Interessante notar que mesmo marcado pela pluralidade de ideias e evidente uso de diferentes conceitos criativos, Agor em nenhum momento rompe com a forte aproximação entre as faixas. Parte desse resultado vem da escolha de Roberts em trabalhar com com um mesmo conjunto de samples e vozes sintéticas. Perfeita representação desse resultado acontece quando observamos a trinca composta por White Picket Fence, Shellshock e Strangers. Três faixas completamente distintas, porém, intimamente conectadas, efeito direto do uso instrumental dos vocais e ambientações eletrônicas. Mesmo criações passadiças, como Primes, utilizam de uma série de elementos explorados ao longo da obra, conceito anteriormente testados pelo artista em registros como Yügen (2013).

O problema é que mesmo marcado pela coerência dos elementos e permanente busca por novas possibilidades, Agor segue como uma obra ausente de peso. São canções que encantam pelo forte caráter anárquico e uso abstrato das melodias, mas que nunca passam disso. E esse tem sido um dos principais desafios enfrentados pelo produtor desde o começo da carreira. Do momento em que tem início, na atmosférica Yonder, tudo se resolve a partir de fragmentos instrumentais, rítmicos e estéticos que capturam a atenção do ouvinte, porém, sempre de maneira efêmera. Uma postura talvez tolerável se estivéssemos falando de um artista em início de carreira, mas pouco convincente quando observamos tudo aquilo que Koreless tem apresentado em mais de uma década de atuação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.