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Crítica

Lady Gaga

: "Mayhem"

Ano: 2025

Selo: Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Madonna e Miley Cyrus

Ouça: Abracadabra, Disease e Killah

7.7
7.7

Lady Gaga: “Mayhem”

Ano: 2025

Selo: Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Madonna e Miley Cyrus

Ouça: Abracadabra, Disease e Killah

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2025

Em outubro do último ano, quando regressou com Disease, Lady Gaga parecia deixar bastante claro que o novo álbum em carreira solo seria guiado por uma atmosfera soturna, rompendo com a proposta colorida que marca a era Chromatica (2020). Essa percepção ficou ainda mais nítida quando nos deparamos com a identidade visual concebida para Mayhem (2025, Interscope) e a consequente revelação de Abracadabra, faixa que parecia resgatar o mesmo pop estranho de obras como The Fame (2008) e Born This Way (2011).

Mayhem talvez não seja assim tão sombrio quanto Gaga deu a entender que seria, porém, traz de volta a mesma fluidez e potência explícita nos primeiros trabalhos de estúdio da norte-americana. Descrito pela artista como “remontar um espelho quebrado”, o registro concebido em colaboração com o próprio noivo, Michael Polansky, e o requisitado produtor Andrew Watt (Lana Del Rey, Dua Lipa), está repleto de acenos para o passado da cantora, mas em nenhum momento parece sucumbir criativamente à nostalgia barata.

Exemplo disso fica mais do que evidente em Killah, colaboração com o produtor francês Gesaffelstein em que parte das guitarras de Fame, de David Bowie, para mergulhar de maneira totalmente inusitada em um rock industrial no melhor estilo Nine Inch Nails. Outra que utiliza de uma abordagem similar é Garden of Eden, com suas batidas e sintetizadores acinzentados que parecem saídos do catálogo do selo Ed Banger.

É como um regresso aos temas e conceitos explorados nos primeiros registros autorais da cantora, porém, partindo de um acabamento estético essencialmente ruidoso, próprio do universo criativo elaborado para Mayhem. Mesmo quando evoca o trabalho de Madonna da fase Ray of Light (1998), nos minutos iniciais de Perfect Celebrity, Gaga encontra um jeito de trazer a canção para dentro do território sombrio do registro.

O problema é que, passada essa matadora sequência de canções que ocupa a primeira metade do álbum, Mayhem começa a perder fôlego e peca pelas inconsistências. Em How Bad Do U Want Me, por exemplo, a cantora deixa de lado a ambientação soturna para mergulhar em um pop retrô que soa como uma canção de Taylor Swift produzida por Jack Antonoff. Já em Don’t Call Tonight, a artista faz uma viagem em direção aos anos 1980, lembrando Tina Turner em What’s Love Got To Do With It. A própria escolha em encerrar o trabalho com Die with a Smile, já conhecida colaboração com Bruno Mars, torna tudo ainda mais confuso.

A questão é que, mesmo nessas mudanças bruscas de direção, Gaga mantém firme o domínio em relação ao pop, garantindo ao público um catálogo de faixas altamente pegajosas. Da homenagem em Zombieboy ao modelo Rick Genest (1985 – 2018), que estrelou o vídeo de Born This Way, passando pelo diálogo com a obra de Phil Collins em The Beast, composição em que utiliza de elementos da seminal In the Air Tonight, sobram momentos em que a artista, para além do feitiço lançado em Abracadabra, faz a mágica acontecer.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.