Image
Crítica

Lana Del Rey

: "Did You Know That There's a Tunnel Under Ocean Blvd"

Ano: 2023

Selo: Interscope / Polydor

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Weyes Blood e Lykke Li

Ouça: A&W, The Grants e Fingertips

8.5
8.5

Lana Del Rey: “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd”

Ano: 2023

Selo: Interscope / Polydor

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Weyes Blood e Lykke Li

Ouça: A&W, The Grants e Fingertips

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2023

Longe do pop compactado e formulaico que marca os primeiros álbuns de estúdio, Lana Del Rey tem investido em obras cada vez mais extensas, densas e imersivas. “É como se eu estivesse digitando em minha mente“, disse a artista em entrevista à W Magazine, em maio do último ano, quando se preparava para entrar em estúdio para a produção do nono trabalho de inéditas da carreira, Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd (2023, Interscope / Polydor). Dotado de um ritmo próprio e versos que externalizam sentimentos, o registro de essência contemplativa mostra a artista em sua melhor forma.

Sequência ao material entregue na dobradinha composta por Chemtrails Over The Country Club (2021) e Blue Banisters (2021), o trabalho de 16 faixas exige tempo até se revelar por completo, porém, gratifica a experiência do ouvinte durante toda sua execução. Trata-se um registro concebido entre duas elevações que dialogam com o material entregue em Norman Fucking Rockwell (2019) e um vale fluvial que abre passagem para uma nova fase na carreira da artista. Um exercício em três atos bem delimitados, mas que sustenta na observação isolada de suas canções um indicativo do completo domínio criativo da cantora.

Começando pelo primeiro bloco, temos preciosidades como The Grants, composição em que flerta com o soul e reflete sobre a própria família; a já conhecida faixa-título e seus pianos que apontam para a obra de Angelo Badalamenti, e Sweet, delicada criação que em passeia em meio a cenas e paisagens sempre descritivas da Costa Oeste dos Estados Unidos. Nada que prepare o ouvinte para a potência de A&W. Pouco mais de sete minutos em que Lana e o parceiro de produção, o músico Jack Antonoff, convidam o ouvinte a se perder em uma jornada emocional, lírica e instrumental que parece combinar passado e presente da artista. “Não é sobre ter alguém para me amar mais / Essa é a experiência de ser uma prostituta americana“, confessa em meio a batidas que apontam para o introdutório Born To Die (2012).

No outro extremo da obra, iniciando em Margaret, parceria com o Bleachers, do próprio Antonoff, Lana mais uma vez se aprofunda nas baladas soturnas que tem sido exploradas desde Ultraviolence (2014). São composições como Fishtail e o encontro com Tommy Genesis, em Peppers, que evidenciam o mesmo refinamento estético presente no restante da obra, porém, entrecortadas pelo uso das batidas eletrônicas e elementos que se conectam aos antigos trabalhos da cantora. A própria música de encerramento, Taco Truck x VB, utiliza de trechos de Venice Bitch, uma das principais faixas de Norman Fucking Rockwell.

Entretanto, é no bloco central que reside a real beleza de Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd. Passado o extenso interlúdio que mostra um discurso do pastor norte-americano Judah Smith, um dos pontos de desconexão do trabalho, Lana mergulha em uma seleção de faixas consumidas pelo caráter confessional dos versos e evidente esmero na composição dos arranjos. Da colaboração com o premiado Jon Batiste, em Candy Necklace, passando pelas orquestrações de Let the Light In, parceria com Father John Misty, sobram canções em que a artista estreita laços e encanta pela sutileza dos elementos.

Mesmo quando desfila solitária pelo interior do trabalho, como em Fingertips, música em que parte de um intenso fluxo de pensamentos para tratar de traumas geracionais e inquietações sobre o próprio futuro, Lana mantém firme o minucioso processo de criação que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. É como um delicado exercício de exposição sentimental, estrutura que passa por conflitos pessoais e questões familiares, base de grande parte das canções, mas que a todo momento estabelece elementos de conexão que destacam a capacidade da artista em comunicar por meio das emoções.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.