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Crítica

Låpsley

: "Cautionary Tales Of Youth"

Ano: 2023

Selo: Believe

Gênero: R&B, Pop

Para quem gosta de: Shura e Kacy Hill

Ouça: 32 Floors e Dial Two Seven

7.0
7.0

Låpsley: “Cautionary Tales Of Youth”

Ano: 2023

Selo: Believe

Gênero: R&B, Pop

Para quem gosta de: Shura e Kacy Hill

Ouça: 32 Floors e Dial Two Seven

/ Por: Cleber Facchi 14/02/2023

Perto de completar dez anos de carreira, Låpsley continua a fazer dos próprios sentimentos e diferentes crises emocionais o principal componente criativo para cada novo trabalho de estúdio. Foi assim com o introdutório Long Way Home (2016), de onde vieram preciosidades como Hurt Me e Falling Short, e no posterior Through Water (2020), registro que acabou engolido pela pandemia de Covid-19, mas que resultou em uma série de pequenos acertos, como My Love Was Like The Rain e Womxn. São canções sempre sensíveis e intimistas, proposta que volta a se repetir em Cautionary Tales Of Youth (2023, Believe).

Terceiro e mais recente álbum de estúdio da cantora, compositora e produtora inglesa, o trabalho segue de onde Låpsley parou nos últimos lançamentos, porém, de forma ainda mais acessível. Na contramão do pop reducionista que marca os primeiros registros, vide músicas como Painter (Valentine) e Station, quando parecia dialogar com a onda silenciosa de nomes como The xx e James Blake, a artista se aprofunda na entrega de um repertório marcado pelo uso destacado das batidas e versos que mesmo consumidos pela dor, convidam o ouvinte a dançar. Um exercício de libertação que vai do uso das vozes à imagem de capa.

Alma amarrada / Eu quero um amor tão apertado / Correndo atrás da luz“, confessa na já conhecida Dial Two Seven. Originalmente lançada em outubro do último ano, a composição funciona como uma boa representação do pop ensolarado que Låpsley busca desenvolver ao longo do disco. São camadas de sintetizadores e melodias borbulhantes que se espalham em meio a batidas tropicais, dialogando com o som do amapiano que migrou do continente africano para a cena londrina. O mesmo lirismo confessional detalhado nos registros anteriores, porém, partindo de uma abordagem parcialmente transformada.

E isso fica mais do que evidente logo nos minutos iniciais do trabalho. Com 32 Floors como composição de abertura, Låpsley aponta para o mesmo território criativo de artistas como Romy, HAAi e outros nomes de destaque da cena inglesa. Um colorido cruzamento de informações que vai do R&B às pistas de forma sempre sensível, direcionamento reforçado na canção seguinte, Hotel Corridos. Enquanto os versos destacam o lirismo atormentado da cantora (“Eu sou confrontada com cada imagem refletida“), batidas e sintetizadores ascendentes rompem com qualquer traço de conforto e ampliam os limites do registro.

Maior a cada nova audição, Cautionary Tales Of Youth se revela como uma obra entusiasmada na maior parte do tempo, porém, estabelece pequenos respiros e momentos de maior contemplação que trazem de volta a essência dos antigos trabalhos de Låpsley. Quarta faixa do disco, Close To Heaven talvez seja a principal representação desse resultado. Completa pela participação da cantora e compositora sul-africana Msaki, a faixa segue uma trilha completamente distinta em relação do restante do álbum. São batidas e vozes sempre calculadas, conceito que volta a se repetir em canções como as delicadas Levitate e Lifeline.

Partindo da divisão de Cautionary Tales Of Youth em dois blocos específicos de canções, Låpsley garante ao público um material em que se permite provar de novas possibilidades dentro de estúdio, porém, preservando a essência dos antigos trabalhos. Não se trata de uma obra revolucionária, mas de um precioso exercício de transformação que parte das experiências sentimentais vividas pela cantora e segue em cada mínimo fragmento do registro. Instantes em que a artista deixa de sufocar pelas próprias angústias, conceito reforçado na imagem de capa do disco anterior, para explorar um novo território.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.