Ano: 2024
Selo: Chrysalis / Partisan
Gênero: Folk
Para quem gosta de: Joni Mitchell e Cat Power
Ouça: Patterns e No One’s Gonna Love You Like I Can
Ano: 2024
Selo: Chrysalis / Partisan
Gênero: Folk
Para quem gosta de: Joni Mitchell e Cat Power
Ouça: Patterns e No One’s Gonna Love You Like I Can
A primeira coisa que escutamos em Patterns In Repeat (2024, Chrysalis / Partisan) é a conversa entre duas pessoas seguida do som de um bebê e risos. Ainda que bastante sutil, essa inserção nos minutos iniciais de Child Of Mine ajuda a entender a atmosfera e parte dos temas que abastecem o oitavo álbum de estúdio da cantora e compositora inglesa Laura Marling. Trata-se de um delicado estudo da artista sobre o processo de gravidez vivido há poucos meses, a interpretação sobre maternidade e o nascimento da primeira filha.
Entretanto, Marling já havia cantado sobre grande parte desses mesmos temas há quatro anos, em Song for Our Daughter (2020), trabalho em que, amparada pela obra da poetisa Maya Angelou, cria um diálogo com uma filha imaginária, projetando suas inquietações de forma quase premonitória. Na época, a ideia de ter uma criança era algo distante para a artista, como um conceito criativo a ser explorado dentro de estúdio, proposta que destaca a sensibilidade poética e verdade da cantora ao embarcarmos em Patterns In Repeat.
Diferente do lançamento anterior, onde tudo era trabalhado de maneira ampla e conceitual, com o presente álbum, Marling encanta pela precisão dos detalhes. São composições que partem de observações simples, porém sempre meticulosas sobre o processo de maternidade e a relação que se constrói aos poucos entre uma mãe e seu bebê. É como se a artista fosse aos poucos percebendo a si mesma na própria filha. “Somos padrões em repetição / E sempre seremos”, reflete a musicista com a voz macia na já conhecida Patterns.
O mais fascinante talvez seja perceber que, para além das questões abordadas poeticamente por Marling, Patterns In Repeat transporta para dentro de estúdio a mesma atmosfera acolhedora de uma típica canção de ninar. Longe do som impactante de registros como Once I Was an Eagle (2013), a artista se concentra na entrega de um material reducionista. São violões sempre em primeiro plano, harmonias de vozes e arranjos de cordas que avançam aos poucos, como se pensados para envolver e confortar o ouvinte, vide Lullaby.
Embora parta de uma premissa bastante específica, como um diálogo constante de Marling com a própria filha, Patterns In Repeat encanta justamente pela aplicabilidade dos versos e a forma como a compositora deixa suas criações sempre abertas à interpretação do ouvinte. O resultado desse processo está na entrega de composições tão íntimas da cantora como do público, direcionamento reforçado em Caroline, No One’s Gonna Love You Like I Can e demais preciosidades apresentadas pela musicista no decorrer do trabalho.
Mesmo marcado pelo refinamento dos arranjos e entrega de Marling durante toda a execução do material, Patterns In Repeat parece perder parte da beleza quando avançamos para a segunda metade do trabalho. São repetições instrumentais e poéticas, como em Looking Back, que acabam estendendo o registro para além do necessário. Entretanto, tudo é tratado com tamanha delicadeza que mesmo os “deslizes” da artista se tornam aceitáveis, efeito direto da sutileza que embala arranjos, melodias e vozes até os minutos finais.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.