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Crítica

Lencinho

: "Só As Melhores"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Rock, Samba, Pagode

Para quem gosta de: Do Amor e Lupe de Lupe

Ouça: O Gosto do Amor e Como É Possível

7.0
7.0

Lencinho: “Só As Melhores”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Rock, Samba, Pagode

Para quem gosta de: Do Amor e Lupe de Lupe

Ouça: O Gosto do Amor e Como É Possível

/ Por: Cleber Facchi 09/02/2024

De tempos em tempos, as andanças de Vitor Brauer costumam levar o cantor e compositor mineiro para territórios completamente inimagináveis. Mais recente empreitada criativa do também integrante da Lupe de Lupe, Só As Melhores (2024, Independente), estreia do paralelo Lencinho, funciona como uma perfeita representação desse resultado. Completo pela presença dos músicos Pedro Millecco, da Trash No Star, e Bernardo Cunha, Gabriel Otero e Fábio Baltar, da banda Tom Gangue,o projeto segue a trilha ruidosa do artista belo-horizontino, porém, encontra no pagode dos anos 1990 uma importante fonte de inspiração.

De contornos satíricos, conceito que vai da cafajeste imagem de capa ao material de divulgação que busca emular a estética de veteranos como Exaltasamba e Art Popular em seus anos iniciais, o registro de nove faixas curiosamente acaba se revelando como uma das criações mais honestas de Brauer e seus parceiros. São composições ancoradas em elementos bastante característicos de clássicos do samba e do pagode romântico, como os coros de vozes, o protagonismo dado ao cavaquinho e a percussão compassada, mas que estabelece no contrastante uso ruidoso das guitarras a inserção de um elemento totalmente identitário.

Sexta faixa do disco, O Gosto do Amor funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos destacam a vulnerabilidade emocional presente durante toda a execução do material (“Não existe amor / Não existe perdão / Não existe artista mais triste que aquele que canta sem ter coração“), camadas de guitarras avançam aos poucos, cobrindo toda a superfície da composição que tanto poderia pertencer ao Raça Negra como ao Slowdive. É como um inquietante atravessamento de informações que talvez se perdesse nas mãos de outros artistas, mas que estranhamente funciona sob o domínio criativo da Lencinho.

Parte desse resultado vem do esforço do quinteto em romper com o lirismo excessivamente melancólico de suas criações originais e, mesmo que momentaneamente, abraçar um direcionamento festivo, concedendo ao disco um caráter equilibrado. A própria composição de abertura, Esfriou Em Queimados, com ares de música ao vivo, não apenas evidencia esse conceito, como ainda abre passagem para outras criações que destacam a potência criativa do grupo. É o caso de Pantone, um enérgico samba rock que parece pensado para as apresentações da banda, ou mesmo a releitura de Baladinha, faixa mais conhecida da Tom Gangue.

Embora equilibrado e musicalmente bem resolvido, Só As Melhores invariavelmente tropeça em uma série de elementos essenciais em trabalhos do gênero, como as vozes deficitárias e o descompasso dos vocais de apoio em composições como Tudo Que Você Quiser. Entretanto, tudo é tratado de maneira tão orgânica, livre de um possível aspecto caricatural que facilmente poderia corromper o registro, que é difícil não se deixar conduzir pelo repertório proposto pelo quinteto. Do lirismo agridoce de É Tão Estranho, passando pelo samba ruidoso de Como É Possível, cada nova criação destaca o capricho dos integrantes em estúdio.

Dessa forma, Só As Melhores soa como uma obra tão despretensiosa quanto genuinamente interessada. É como um exercício de estilo que a todo instante estabelece pequenos diálogos com a produção brasileira do início da década de 1990, mas que em nenhum momento oculta a identidade criativa do quinteto, vide a distorcida inserção de guitarras que parecem saídas do barulhento e ainda recente Um Tijolo Com Seu Nome (2023). Uma imprevisível combinação de estilos que muito provavelmente nasceu de uma piada entre os membros da banda, mas que deixa o deboche de lado em prol de um material bastante coeso.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.