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Crítica

Leon Bridges

: "Gold-Diggers Sound"

Ano: 2021

Selo: Columbia

Gênero: Soul, R&B, Pop Rock

Para quem gosta de: Michael Kiwanuka e Celeste

Ouça: Steam e Don't Worry

7.6
7.6

Leon Bridges: “Gold-Diggers Sound”

Ano: 2021

Selo: Columbia

Gênero: Soul, R&B, Pop Rock

Para quem gosta de: Michael Kiwanuka e Celeste

Ouça: Steam e Don't Worry

/ Por: Cleber Facchi 10/08/2021

Pouco a pouco, Leon Brigdes foi deixando o som empoeirado de Coming Home (2015), trabalho em que dialoga com a obra de veteranos como Otis Redding e Sam Cooke, para mergulhar em um repertório cada vez mais acessível, íntimo de uma parcela ainda maior do público. O resultado desse processo está na apresentação do álbum seguinte, Good Thing (2018), trabalho em que preserva o mesmo lirismo confessional e entrega presente no bem-sucedido registro de estreia, porém, partindo de um novo direcionamento estético. São canções que parecem dançar pelo tempo, proposta que hora aponta para a música negra dos anos 1970, ora dialoga com as criações de Michael Kiwanuka, Brittany Howard e outros personagens de destaque que surgiram ao longo da última década.

Esse mesmo aspecto revisionista acaba se refletindo em cada uma das canções de Gold-Diggers Sound (2021, Columbia), registro que aponta para o passado, porém, estabelece na construção dos arranjos, melodias e temáticas um precioso componente de transformação. É como se Bridges, acompanhado pelos produtores Ricky Reed (Lizzo, Bomba Estéreo) e Nate Mercereau (The Weeknd, Chloe x Halle), com quem tem colaborado desde o álbum anterior, transportasse para dentro de estúdio algumas de suas principais referências criativas, fazendo desse curioso olhar para o passado o estímulo para a construção de uma obra essencialmente atualizada, dotada de raro frescor.

Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do registro, em Born Again, música que se espalha em meio a arranjos nostálgicos, porém, carrega no uso calculado das batidas e teclados futurísticos de Robert Glasper um importante elemento de ruptura e busca por novas possibilidades. Pouco mais de três minutos em que o cantor sintetiza parte das experiências que serão incorporadas ao longo da obra. A principal diferença em relação aos antigos trabalhos do músico, principalmente Good Thing, está na forma Bridges utiliza de uma abordagem ainda mais sensível e detalhista durante toda a execução do álbum, capturando a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades.

Perfeita representação desse resultado acontece em Steam. Enquanto os versos refletem o habitual romantismo de Bridges – “Você tem a chave / Você sabe, você sabe que tem o controle sobre mim / Permita-se entrar” –, camadas de guitarras, uma linha de baixo suculenta e harmonias de vozes se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. O mesmo refinamento estético e entrega sentimental se reflete minutos à frente, no debate racial de Sweeter. “Por que temo com a pele escura como a noite? / Não consigo sentir paz com aqueles olhos de julgamento“, reflete enquanto batidas econômicas encolhem e crescem a todo instante, sempre acompanhadas pelo saxofone melancólico de Terrace Martin, parceiro em diversas composições ao longo do trabalho.

Nada que se compare ao material entregue em Don’t Worry. Faixa mais extensa do disco, a canção de quase sete minutos mostra a capacidade de Bridges e seus parceiros de estúdio em lidar com os instantes. Do uso discreto dos pianos, passando pelo movimento das guitarras e batidas sempre precisas, cada elemento da composição parece pensado para potencializar as vozes e sentimentos compartilhados entre o músico estadunidense e a cantora Ink. “Já se passaram alguns meses desde que liguei para o seu telefone / Eu não estou bravo, mas estou mudando“, confessa enquanto a convidada responde: “Não, não foi apenas uma vez / Eu tenho vivido com suas mentiras por muito tempo / Ligando depois da meia noite / Tendo que te buscar no meu caminho para casa“.

São justamente esses encontros com diferentes colaboradores que garantem ao disco um precioso senso de renovação, disfarçando, mesmo que momentaneamente, a forte similaridade entre as faixas, vide a sequência de abertura do disco. Do momento em que tem início a já conhecida Motorbike, passando por músicas como Why Don’t You Touch Me e Sho Nuff, Bridges parece dar voltas em torno de um limitado conjunto de ideias. Parte desse resultado vem da escolha do artista em desenvolver uma obra de acabamento atmosférico, proposta que se reflete mesmo nos momentos de maior euforia do álbum, como na já citada Steam. É como se o cantor tivesse em mãos um material potencialmente grandioso, mas que em nenhum momento ultrapassa um específico limite conceitual.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.