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Crítica

Let’s Eat Grandma

: "Two Ribbons"

Ano: 2022

Selo: Transgressive

Gênero: Synthpop, Electropop

Para quem gosta de: CHVRCHES, M83 e La Roux

Ouça: Happy New Year e Levitation

7.8
7.8

Let’s Eat Grandma: “Two Ribbons”

Ano: 2022

Selo: Transgressive

Gênero: Synthpop, Electropop

Para quem gosta de: CHVRCHES, M83 e La Roux

Ouça: Happy New Year e Levitation

/ Por: Cleber Facchi 12/05/2022

Por trás da colorida base de sintetizadores, batidas eletrônicas e melodias sempre cantaroláveis, uma obra consumida pela força dos sentimentos. Em Two Ribbons (2022, Transgressive), terceiro e mais recente trabalho de estúdio do Let’s Eat Grandma, cada mínimo fragmento do trabalho gira em torno das emoções, medos e memórias compartilhadas pela dupla formada por Jenny Hollingworth e Rosa Walton. Canções que partem de vivências reais para estreitar a relação com o próprio ouvinte, como uma extensão natural do repertório entregue pelas duas artistas durante a produção do registro anterior, I’m All Ears (2018).

Mais uma vez acompanhadas pelo co-produtor David Wrench (Frank Ocean, Jamie xx), Hollingworth e Walton evidenciam a potência do trabalho logo nos minutos iniciais, em Happy New Year. Trata-se de uma delicada reflexão sobre um processo de afastamento e breve ruptura vivido pelas duas artistas, estímulo para a construção dos versos que sintetizam o que há de mais sensível no material entregue pela dupla. “Diga as coisas que ninguém sabe sobre nós / Bem, não há mais ninguém que me entenda como você“, cresce a letra da composição, sempre adornada pelo uso de fogos de artifício e sintetizadores festivos.

Com base nessa estrutura, a dupla londrina aponta a direção seguida até a autointitulada música de encerramento do trabalho. São canções que oscilam entre momentos de maior calmaria e estruturas grandiosas, conceito que tem sido incorporado desde o introdutório I, Gemini (2016), mas que parece explorado de forma ainda mais interessante ao longo do presente disco. Exemplo disso acontece na dobradinha composta por Levitation e Watching You Go. Pouco menos de nove minutos em que as duas artistas brincam com a criativa sobreposição dos elementos, batidas e vozes de forma sempre detalhista.

Esse esmero no processo de criação fica bastante evidente mesmo nos momentos de maior calmaria da obra. Perfeita representação desse resultado acontece em Sunday. São camadas de sintetizadores, a percussão cristalina e costuras rítmicas que transportam o som produzido pela dupla britânica para um novo território criativo. Canções que seguem de onde o Let’s Eat Grandma parou há quatro anos, porém, de forma cada vez mais complexa e aberta ao encaixe de novas possibilidades. O próprio uso das guitarras, em Insect Loop, reforça isso, como uma tentativa das duas artistas em ampliar os próprios domínios.

O problema é que para cada composição que evidencia a identidade plural da dupla, existem duas ou mais criações ancoradas em estruturas há muito exploradas por Hollingworth e Walton. A já conhecida Hall Of Mirrors, por exemplo, embora bem executada, pouco acrescenta quando próxima do material entregue em I’m All Ears. O próprio uso destacado dos sintetizadores, emulando instrumentos de sopro, reforça esse resultado. Outro aspecto bastante problemático diz respeito ao bloco final do trabalho, onde o nítido acumulo de interlúdios rompe de forma expressiva com o dinamismo explícito na porção inicial do disco.

Ainda assim, os momentos de maior acerto do registro se destacam com tamanha naturalidade que é difícil não ceder aos encantos da dupla inglesa. Tão logo tem início, em Happy New Year, Hollingworth e Walton capturam a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. São canções que parecem crescer para além dos limites da obra. Um delicado exercício criativo que parte da poesia agridoce que orienta a construção dos versos, cresce no uso dos sintetizadores e estreita a relação com o ouvinte de forma bastante expressiva, como uma combinação de tudo aquilo que existe de melhor no som produzido pelas duas artistas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.