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Crítica

Levon Vincent

: "Silent Cities"

Ano: 2022

Selo: Novel Sound

Gênero: Eletrônica, Techno, Downtempo

Para quem gosta de: Axel Boman e Shinichi Atobe

Ouça: Wolves, Birds e Mother Amazon

7.7
7.7

Levon Vincent: “Silent Cities”

Ano: 2022

Selo: Novel Sound

Gênero: Eletrônica, Techno, Downtempo

Para quem gosta de: Axel Boman e Shinichi Atobe

Ouça: Wolves, Birds e Mother Amazon

/ Por: Cleber Facchi 18/08/2022

Longe das pistas, Levon Vincent parece ter encontrado um lugar que pertence somente a ele. Em Silent Cities (2022, Novel Sound), mais recente lançamento do produtor estadunidense, cada composição parece pensada como um objeto isolado. São criações que evocam memórias de um passado distante, passam por inspirações coletadas durante a infância e adolescência do artista texano que cresceu em Nova Iorque e se entrelaçam em uma abordagem bastante particular. O próprio formato de distribuição do material, em fita cassete, parece contribuir para essa interessante convergência de ideias, ritmos e sensações nostálgicas.

Diferente do material entregue nos antigos trabalhos de estúdio, como o autointitulado disco de estreia e os posteriores For Paris (2017) e World Order Music (2019), Vincent se distancia da urgência das batidas para investir em um repertório que segue em uma medida própria de tempo. Com mais de oito minutos de duração, Everlasting Joy, música de abertura do disco, funciona como uma boa representação desse resultado. São camadas de sintetizadores e ambientações contidas que apontam para as criações de Aphex Twin, porém, partindo de uma abordagem menos contemplativa, proposta que se reflete ao longo da obra.

Parte desse resultado veio do próprio processo de criação do trabalho. Concebido durante o período de isolamento social, Vincent decidiu transportar para dentro das canções o mesmo sentimento de solidão experienciado durante as andanças por ruas desertas de diferentes centros urbanos. Dessa forma, longe de funcionar como um convite às pistas, marca de grande parte das composições assinadas pelo artista, parte expressiva do repertório funciona como um delicado pano de fundo instrumental. Preciosidades como Sunrise, Moonlight e a derradeira Sunset que parecem pensadas de forma a envolver e confortar o ouvinte.

Entretanto, como indicado logo nos minutos iniciais do trabalho, Silent Cities está longe de ser encarado como um álbum de música ambiente. E isso fica bastante evidente nos momentos em que o produtor tensiona a experiência do ouvinte. Em Wolves, por exemplo, Vincent parte de uma abordagem contida, por vezes minimalista, mas que revela novas camadas e diferentes direções criativas a cada movimento do artista. São sobreposições ruidosas, sintetizadores e distorções, proposta que flerta com elementos de shoegaze, porém, preservando o direcionamento eletrônico e identidade artística do norte-americano.

E ela não é a única. Minutos à frente, em Tigers, Vincent destaca o uso das batidas enquanto utiliza da sobreposição dos elementos, quebras e ruídos sintéticos. A mesma riqueza de informações fica ainda mais evidente em Birds, faixa em aponta para a música industrial de forma labiríntica, estrutura que vai do uso fragmentado das batidas ao toque ecoado dos sintetizadores. Surgem ainda composições como a inusitada Mother Amazon, canção em que aponta para o hip-hop dos anos 1990 na mesma medida em que utiliza de ambientações e melodias cósmicas, refinamento que evoca as criações transcendentais da década de 1970.

Com todos esses elementos em mãos, Vincent garante ao público uma obra diversa, porém, irregular. É como uma coletânea não intencional que concentra passado e presente de tudo aquilo que caracteriza as criações artista, proposta que invariavelmente tende ao uso de pequenos excessos. Diferente do material entregue nos discos anteriores, onde a potência das batidas parecia orientar a construção das faixas, em Silent Cities o produtor oscila entre momentos de calmaria e sutil agitação de forma aleatória. Canções que utilizam de uma linguagem particular, porém, sempre atrativas e marcadas pelo refinamento estético.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.