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Crítica

Lil Silva

: "Yesterday is Heavy"

Ano: 2022

Selo: Nowhere

Gênero: R&B, Eletrônica, Soul

Para quem gosta de: Sampha e SBTRKT

Ouça: Backwards e To The Floor

7.6
7.6

Lil Silva: “Yesterday is Heavy”

Ano: 2022

Selo: Nowhere

Gênero: R&B, Eletrônica, Soul

Para quem gosta de: Sampha e SBTRKT

Ouça: Backwards e To The Floor

/ Por: Cleber Facchi 28/07/2022

Pensar em Yesterday is Heavy (2022, Nowhere) como o primeiro disco de Lil Silva é uma dessas coisas que dão um nó na cabeça. Em mais uma década de atuação, o produtor, cantor e compositor inglês acumula uma sequência de músicas isoladas, diferentes EPs, remixes e até colaborações com nomes importantes como Adele e Banks, porém, nunca antes havia mergulhado na criação de um álbum solo. Como forma de compensar tamanha espera, interessante perceber nas composições do aguardado registro um acumulo natural de tudo aquilo que o artista britânico tem explorado criativamente desde o início da carreira.

Com Another Sketch como composição de abertura, Silva apresenta parte dos elementos que serão desenvolvidos ao longo do trabalho. Estão lá os sintetizadores retrofuturistas que evocam a produção inglesa dos anos 2010, o uso fragmentado das batidas e vozes cuidadosamente encaixadas. Instantes em que o produtor esbarra nas criações de conterrâneos como SBTRKT e Disclosure, porém, partindo de uma abordagem sempre particular, conceito reforçado pelo lirismo agridoce que acaba se refletindo até a música de encerramento do registro, Ends Now, bem sucedida colaboração com o cantor serpentwithfeet.

Partindo dessa estrutura, Silva divide o trabalho em dois blocos específicos de canções. No primeiro deles, são faixas assumidas integralmente pelo produtor. É caso de Setember, música que valoriza o uso das batidas eletrônicas e momentos de maior experimentação, como um espaço aberto às possibilidades. Já outras, como Colours, potencializam o uso das vozes e completa vulnerabilidade do artista, lembrando as criações de James Blake em início de carreira. Composições que funcionam como um delicado exercício de exposição sentimental, direcionamento que ganha ainda mais destaque na porção seguinte do disco.

Conhecido pelo forte aspecto colaborativo, Silva enche o restante da obra com instrumentistas e vozes vindas dos mais variados campos da música. Parceiro de longa data do produtor, Sampha aparece em duas delas. De um lado, Backwards, canção que se espalha em meio a batidas tortas e versos consumidos pela dor, no outro, Still, um misto de canto e rima que se completa pela presença do rapper canadense Skiifall. O artista de Montreal ganha ainda mais destaque na crescente What If?, faixa que chama a atenção pelo refinamento dado às batidas e percussão vocal que ecoa logo nos segundos iniciais da composição.

Vem justamente desse diálogo com diferentes colaboradores o estímulo para algumas das principais faixas do disco. É o caso To The Floor, inusitado encontro com os canadenses do BADBADNOTGOOD e um claro ponto de ruptura em relação ao restante da obra. Logo na abertura do disco, em Be Cool, é a voz de Yukimi Nagano, do Little Dragon, que orienta a construção dos versos, sempre acompanhados pela produção minuciosa de Silva. Esse mesmo esmero no processo de criação fica ainda mais evidente na reducionista Leave It, música que desacelera de forma potencializar a presença da cantora Charlotte Day Wilson.

Toda essa combinação de elementos e diferentes vozes garante ao público uma obra conceitualmente diversa, porém, homogênea, efeito direto do tratamento dado aos sintetizadores e uso característico das batidas. São composições ancoradas em elementos há muito explorados e talvez desgastados dentro da cena inglesa, mas que invariavelmente convencem o ouvinte. Do momento em que tem início, na já citada Another Sketch, Silva se concentra na formação de um repertório marcado pela inserção cuidadosa de cada mínimo componente, esmero que acaba se refletindo durante toda a execução de Yesterday is Heavy.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.